A quaresma nos conduz para a Semana Santa. A caminhada dos quarenta anos do deserto levou o povo às portas da Terra Prometida. Assim, em cada ano, os 40 dias da quaresma nos introduzem no âmago do mistério da redenção, que a Igreja celebra em sua intensidade maior ao longo dos sete dias desta semana, única e toda singular, que vai do domingo de Ramos ao dia da Páscoa.
Sabemos que a semana é a medida simbólica da totalidade do universo. Desde a sua primeira página, a bíblia apresenta o mundo, ritmado na seqüência de sete dias, expressando a perfeição do projeto divino e sua realização harmoniosa na natureza.
E’ daí que nasce a força simbólica da semana. Na linguagem bíblica, ela é a medida do universo, e a expressão dos desígnios originais de Deus.
Cristo veio retomar estes desígnios, e refazê-los com a nova medida da misericórdia divina, que assimila as conseqüências do pecado humano e reintegra a humanidade em seu mistério de amor.
A ação de Deus, na primeira criação, é colocada no contexto da semana. A “nova criação”, realizada por Cristo, também é colocada na seqüência de uma semana. A primeira semana, da criação do mundo, revela o poder de Deus, que faz tudo acontecer sob o comando de sua palavra.
A segunda semana, a Semana Santa, também revela o poder de Deus. Mas um poder diferente, que surpreende a humanidade. O poder da misericórdia, que assume a forma de fraqueza humana, manifestada pela humilhação do Cristo que aceita o sofrimento e a morte, frutos do pecado, para vencê-los com a força do amor.
A semana da criação revela a eficácia da Palavra criadora, que ordena e tudo acontece. A semana santa manifesta a fecundidade da obediência de Cristo, que aceita o cálice amargo, e por meio dele redime a humanidade e faz acontecer o “homem novo”, que manifesta todo o seu vigor na glória do Ressuscitado.