Nos últimos dias, alguns jornais de TV têm divulgado estudos de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) sobre a evasão de jovens de salas de aula. A pesquisa aponta que a incidência de jovens que abandonam a escola ainda é muito alta. 43% destes jovens declaram que fazem isso por não ter motivação para estudar. Evidentemente, os fatores que levam a isso são diversos, mas uma constatação inevitável é a de que a escola ainda se mantém um tanto rígida e separada do cotidiano da vida, além de presa a conteúdos nocionais e métodos superados em um mundo no qual a juventude está envolvida em internet, orkut e jogos eletrônicos.
A realidade da educação tem mudado em toda a América Latina. Agora, além de Cuba, mais dois países foram reconhecidos pela UNESCO como territórios livres do analfabetismo: Venezuela e Bolívia. Outros estão no caminho. No nosso país, o programa “Brasil Alfabetizado” visa universalizar a alfabetização dos maiores de 15 anos. Já conseguiu alfabetizar mais de nove mil adultos. Apesar disso, ainda temos uma taxa de 16% de analfabetos. E o mais doloroso é que as pesquisas mostram: a maior parte das pessoas analfabetas no Brasil já passaram por alguma escola e saíram sem aprender a ler, ou como dizia Paulo Freire, a reinterpretar o mundo.
Não se pode negar que a atual gestão do Ministério da Educação esteja fazendo, em todos os níveis, um trabalho positivo pela transformação das estruturas da educação. Está havendo um aprimoramento das estruturas da educação infantil, integrando creche e escola e formando pedagogicamente as professoras encarregadas da primeira educação. Os exames que comprovam o rendimento educacional de cada classe e de cada escola expõem a competência e opção das professoras. Uma escola de periferia recebe uma avaliação positiva, enquanto outra, no mesmo bairro, com as mesmas condições e lidando com crianças da mesma classe social, recebe avaliação negativa. Isso revela que as condições sociais não explicam tudo e as professoras precisam sempre rever sua dedicação e cuidado. De fato, a criança dos primeiros anos aprende, não por alguma opção intelectual ou ambição pessoal, mas para agradar e receber aprovação e amor da pessoa adulta que a acompanha. Também no nível da escola média e universidade, vários programas cuidam de melhorar a universidade. A “escola aberta” e “a conexão de saberes” aprofundam a relação da escola e da universidade com movimentos e comunidades populares.
Todos sonhamos com uma escola que parta da realidade da juventude, se construa de amor e ofereça a uma juventude muitas vezes sem perspectivas e sem rumos na vida, motivos não só para viver, mas para ser pessoas boas e solidárias.
Gandhi dizia: “A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer com que desabroche o melhor de uma pessoa”. Toda educação deveria levar a pessoa a assumir a consciência de sua dignidade humana e do seu papel de sujeito e não de objeto na construção da sociedade. É certo que vivemos em um mundo no qual os governos são incapazes de acabar com a fome e a miséria de multidões, mas empregam milhões do dinheiro público para salvar bancos falidos e grandes empresas, vítimas de esquemas desonestos. Entretanto, apesar de tudo, as políticas públicas existem e são fundamentais. Elas têm sido aprimoradas, mas não bastam. A escola precisa ser assumida por todos os cidadãos, como algo que pertence a todos e não somente ao governo ou ao/à diretor/a do estabelecimento. Este processo de apropriação da escola por parte de toda a comunidade local é essencial para a educação da juventude, integrando-a na realidade. É este processo que possibilita a escola assumir e até promover a educação a partir de uma verdadeira diversidade cultural. As tantas escolas que, por todo o Brasil, são bilíngües (ensinam em português e na língua indígena da comunidade), assim como as que se inserem nas culturas afro-descendentes e ensinam a história da África e das comunidades negras no Brasil mostram a riqueza a que se pode chegar. Mais dificilmente, a evasão escolar se dá nestes estabelecimentos.
Para quem tem fé e vive uma busca espiritual, o compromisso com a educação faz parte da missão de testemunhar o amor de Deus por todos os seus filhos e filhas. assim como o de colaborar para que todos, jovens e adultos, participem da ação criadora de Deus, ao transformar este mundo em uma sociedade mais justa e em comunhão de respeito e amor com todo o universo.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.