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“Qui frappe l´Action Catholique, frappe le Pape, et qui frappe le Pape meurt!” que seria algo assim como: “Quem fere a Ação Católica, fere o Papa e quem fere o Papa, morre!” Frase de Pio XI, o Papa da Ação Católica, que abriu ainda muito tímida a “a participação dos leigos no apostolado da Igreja”, como dizia a definição oficial. Nos idos do Papa Ratti, ainda estava distante a idéia de um protagonismo leigo na santificação das realidades temporais, que, três pontificados depois (Pio XII, João XXIII e Paulo VI), iria afirmar-se como doutrina por todos aceita, sobretudo depois do Concilio Vaticano II e as assembléias episcopais de Medellìn e Puebla.

Achille Ratti nasceu em 31 de maio de 1857 e foi ordenado sacerdote em Roma em 1879. Sólida e profunda formação intelectual, unida a enérgico senso prático, levou-o a dirigir duas das maiores instituições culturais da Igreja, a Biblioteca Ambrosiana de Milão e a Biblioteca Vaticana. Enviado representante pontifício em Varsóvia, na Polônia, foi ordenado arcebispo. Em 1921, ornado com a púrpura romana, foi arcebispo de Milão por alguns meses apenas, porque logo foi eleito sucessor de Bento XV no conclave de 6 de fevereiro de 1922.

Aí, mereceu realmente o título de Papa de ferro, ao enfrentar com intrepidez os três monstros do totalitarismo europeu do pós-guerra. Contra o fascismo, escreveu a carta em italiano “Non abbiamo bisogno” (Não temos necessidade) condenando as leis raciais e outros absolutismos da ditadura de Mussolini. Contra o nazismo, escreveu a carta “Mit brennender Sorge” (Com viva inquietação) condenando o anti-semitismo e o mito da raça ariana, superior às demais, e contra o comunismo ateu e materialista, promulgou para toda a cristandade a encíclica “Divini Redemptoris”. Encarou ainda a grande crise econômica de 1929, a guerra civil espanhola e as violentas perseguições aos cristãos na Rússia e no México. Foi o Papa das Missões e de Santa Teresinha, que constituiu padroeira das Missões e chamou-a estrela de seu Pontificado. Diz-se que ele passava noites indormidas, pensando na multidão dos homens, que não conhecem ainda Jesus Cristo. Seu pontificado marcou um desenvolvimento extraordinário da ação missionária da Igreja sobretudo na África e na América Latina. Foi o Papa de Dom Bosco que ele, como bibliotecário da Ambrosiana, visitou pessoalmente em seu humilde Oratório de Valdocco, passando alguns dias hospedado na casa do Santo dos meninos-de-rua da Turim da segunda metade do século XIX. Em seus discursos nas solenidades da beatificação e canonização do Santo, fez muitas referências elogiosas a esse encontro pessoal com S. João Bosco. Na Família Salesiana, é sempre chamado como o Papa de Dom Bosco. Contrariando os liturgistas da Cúria romana, determinou que a canonização do Santo da juventude ocorresse na Solenidade de Páscoa, 1º de abril de 1934, encerrando o Ano Santo do centenário da Redenção. Foi o primeiro Papa a falar ao mundo inteiro pelas ondas da Rádio Vaticana, inaugurada por ele com a presença do próprio inventor do rádio, Guilherme Marconi.

A morte súbita do Papa da Conciliação ocorreu no dia 10 de fevereiro de 1939, véspera do 10º aniversário do Tratado de Latrão, que criou o Estado da Cidade do Vaticano e pacificou as relações entre a Itália e a Santa Sé. Ele havia convocado os bispos italianos para uma solenidade especial no Palácio Apostólico. Após seu falecimento improviso, duas versões surgiram, desmentidas depois no pontificado de João XXIII: que ele pronunciaria naquele aniversário violento discurso, anulando unilateralmente os pactos lateranenses e que teria sido mandado assassinar pelo ditador fascista Mussolini. O discurso nunca foi divulgado e pareceu exagerada a suspeita de um assassinato no Palácio Vaticano.

Ao celebrarmos o 70º aniversário de sua morte, reverenciemos a memória do “Papa de ferro” e acolhamos o precioso legado de seu ensinamento e corajosa posição diante dos erros de seu tempo.

(*) Arcebispo emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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