Nos primeiros tempos da Igreja, os novos cristãos, batizados na páscoa, usavam as roupas bancas durante toda uma semana, até o domingo seguinte. Era neste dia, portanto, como sendo hoje, que voltavam a usar as roupas comuns do cotidiano da vida, como todo mundo.
O símbolo das roupas brancas, conservadas durante toda uma semana, era muito eloqüente. Simbolizava a condição nova, que resultava do batismo, pelo qual eles tinham renascido para a vida de filhos de Deus e membros da Igreja, de pleno direito.
Mas as vestes brancas, usadas ao longo de toda uma semana de trabalho, lembravam também o compromisso assumido no batismo, de viver neste mundo com critérios novos, segundo os valores do evangelho, inserindo-os na realidade cotidiana.
Este compromisso era duplo. De um lado, o desafio de conservar limpas as vestes brancas, no embate cotidiano da vida, isto é, de conservar os valores da fé, e guiar sua vida por eles.
Por outro lado, o desafio de conviver com as outras pessoas que não eram cristãs. A condição nova de batizados e de cidadãos do Reino, não nos impede sermos ao mesmo tempo cidadãos do país em que vivemos neste mundo. O evangelho não inibe a vida humana, ao contrário, a ilumina com motivações novas, e a impulsiona com o vigor dos seus valores.
Celebrada a páscoa, retomadas nossas vestes comuns, não vamos esquecer o compromisso cristão de sermos sal da terra e luz do mundo. Nossa presença de cristãos é despretensiosa de privilégios, mas comprometida com valores. O próprio nos anima a sermos eficazes e discretos na sociedade em que vivemos. No dia da ressurreição ele mesmo se apresentou a Maria Madalena sob a aparência de um jardineiro. Enxergar seu mestre com roupagem diferente, humana, simples, deve ter feito parte da surpresa de Maria.
Aos discípulos de Emaús, Cristo se mostrou sob a forma de um viandante. Com estes paramentos da vida real foi celebrada a primeira eucaristia do ressuscitado, quando então os olhos dos discípulos se abriram e reconheceram que era o Senhor.
Pelo testemunho que damos, seremos reconhecidos como discípulos do Mestre que vestiu nossa roupagem humana para inserir em nossa vida a força do seu amor divino.