Um indivíduo sozinho consegue destruir outro semelhante ou minar a confiança que alguém lhe deposita. Ele é capaz de, com mais alguém, arruinar vidas. Basta soltar seu veneno que, levado a outra pessoa, é transportado a uma outra, que, por sua vez, cruza-se a outra, que leva a outra e assim a teia é tecida de um dia ao outro, até que todos se enredem no veneno destilado e não possam dele escapar, sem que saiam feridos.
Conta-se que, um homem dissimulado levantou um falso a alguém. Algum tempo depois, esse mesmo homem sentiu-se incomodado pelo boato que fez e procurou ajuda de um homem sábio, no intuito de desfazer o mal que fizera.
O sábio o ouviu e, como penitência, mandou que ele depenasse uma galinha e colocasse as penas dentro de um saco, fosse até a estrada e lá saísse jogando as penas para o lado direito, depois para o lado esquerdo, sempre caminhando para frente, até jogar todas elas. Ao final, voltasse pelo mesmo caminho e apanhasse todas as penas que antes jogara ao vento.
O homem fez o que o sábio lhe ordenara, mas, percebeu que não conseguia apanhar nenhuma pena. Voltou ao sábio, dizendo-lhe que não conseguira cumprir a penitência. O sábio disse-lhe que assim era com o que ele tinha falado, quando fez a calúnia: por mais que se empenhasse, jamais conseguiria desfazer o mal feito àquela pessoa.
Assim, como disse João Cabral de Melo Neto: “um galo sozinho não tece uma manhã, ele precisará sempre de outros galos”, também, o homem fofoqueiro não tece uma fofoca sozinho. Ele precisará sempre de outro boateiro, para que esse ouça sua fofoca e passe a outro, que leva a outro e que lance a outro, que cruza a outro, fazendo da fofoca a sua arma mortífera.