Edilberto Sena 14 de abril de 2009



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Quando as autoridades se tornam lentas, quando os concessionários pensam antes nos lucros do que no serviço público, quando a democracia representativa não funciona bem e a população desperta para a violência que sofre em seus direitos e percebe que tem poder de agir, então a democracia direta pode funcionar.

Nos últimos tempos é o que começa a acontecer. A elite burguesa se assusta com isso e também começa a demonizar os movimentos sociais, como acontece hoje no Rio Grande do Sul e como, mesmo aqui em Santarém, certa imprensa preconceituosa repercute, acusando os movimentos sociais ativos de vândalos, criminosos e outros adjetivos.

A elite econômica política prefere que os pobres continuem conformados, recebendo esmolas do Estado e das grandes empresas que sugam as riquezas da região e “doam” pequenos presentes à coletividade.

Já o movimento social que desperta para a busca de seus direitos e vê-se ludibriado por quem deve respeitá-los, começa a compreender que não basta indignar-se com as injustiças, nem tampouco basta resistir aos desmandos, é preciso enfrentar os que lhes tiram os direitos de uma vida digna.

Em Santarém estes sinais de vida têm se manifestado com alguma freqüência recentemente. Umas semanas atrás foi o comitê em defesa do igarapé Urumari (ainda o comitê aguarda a lei de proteção aos igarapés da cidade, cujo projeto está encalhado na Câmara de Vereadores e que, se não for agilizado certamente haverá novo enfrentamento lá no plenário da Câmara); uma semana atrás foi a vez das vítimas da sucateada Cosanpa, no bairro Nova República. Foram às ruas com latas vazias gritando por água potável, seguida de uma audiência pública. O enfrentamento irá nos próximos dias a Belém, onde está a governadora com 35 milhões de reais do PAC para resolver o problema de água em Santarém e que até agora só tem havido enganação.

E neste dias, são os moradores do bairro Santarenzinho, tolidos em seu direito ao transporte coletivo. A empresa simplesmente recusa transitar em certas ruas porque estão em condições ruins. 21 anos atrás, o povo organizado daquele bairro expulsou uma empresa de ônibus, que prejudicava os usuários. Naquele tempo a associação de moradores tinha organização e tinha a força da união dos moradores. A empresa que hoje se recusa a servir aos moradores do bairro foi a que chegou para substituir a outra. Foi recebida com alegria e de fato, melhorou 100% o serviço de transporte coletivo naquela área. Chegou até a negociar o asfaltamento das ruas da linha. Hoje, tudo indica que ela não pensa mais em servir, mas em ganhar e ganhar lucros, por isso deixa de trafegar onde as ruas estão ruins. Os usuários estão indignados, querem resistir ao esbulho, fazendo abaixo assinado e procurando a prefeitura. Querem e têm direito.

Mas, se a prefeitura não der jeito? E se a empresa não voltar a circular por onde deveria? Será que a associação de moradores ainda terá aquela força que teve em 1988? Os moradores partirão para o enfrentamento? E se partirem, as elites econômico e política os acusarão de vândalos e criminosos?
Quando a democracia representativa não funciona quem deve ser responsabilizado de criminoso?

Hoje em dia, povo conformista e passivo não sai da servidão, nem merece melhoria de vida. A dignidade humana está acima de lucros e de poderes institucionalizados. Aliás, foi Jesus Cristo que disse uma verdade semelhante a Pilatos –“Pilatos o poder que tens não é teu, te foi dado do alto para servir…” E o próprio Jesus deu exemplo, se o poder é utilizado para enganar o povo é preciso enfrentá-lo, mesmo que para isso Jesus tenha tido que passar pela paixão e morte, que é o que os pobres dos bairros de periferia estão sofrendo, mas Ele venceu, ao ressuscitar ao terceiro dia. Quem luta pelo bem, mesmo que sofra vencerá.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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