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A tradição religiosa brasileira é majoritariamente católica, mesmo tendo a mesclagem das religiosidades, indígena e dos afro-descendentes. O catolicismo brasileiro é mais tradicional do que de conversão a um caminho novo de vida, proposto por Jesus Cristo.

Grande parte desse catolicismo brasileiro, inclusive de Santarém e do Pará é baseado nas tradições passa¬das de avós, pais e parentes e dos missionários estrangeiros nas desobrigas irregulares. Estes vinham rápido, faziam uma catequese mínima e sacramentalizavam as “almas fiéis”.

Por conta dessa tradição, a fé do povo foi sendo mantida baseada mais na catequese do que na evangelização. Daí a insegurança que perdura ainda hoje em muitos (as) católicos, quando se refere aos fundamentos de sua fé, de sua Igreja e de seus rituais. Jesus Cristo, primeiro evangelizou o povo, anunciou a Boa Nova e só depois, fez uma catequese com seus discípulos, já mais ou menos convertidos ao projeto do mestre. No Brasil a trajetória não foi a mesma de Jesus, por várias razões, inclusive a doutrina do Concílio de Trento, ocorrido ao tempo do chamado descobrimento do Brasil.

Então, por causa da fé tradicional da maioria da população brasileira, a Semana Santa é vivida ainda hoje, mais como ritual de lembranças, até emocionais (especialmente quando focalizam a paixão e morte de Jesus, e quando e onde se faz a procissão do Senhor morto), do que de memória de um acontecimento que tem a ver com a realidade humana de hoje.

Jesus morreu de modo tão cruel, mas por que amou todos os seres humanos, especialmente os humilhados e injustiçados. Como ele mesmo afirmou – “Não há maior amor do que dar a vida pelo irmão”. Ele poderia ter fugido do monte das oliveiras, escapado da morte. Até teve medo daquele sofrimento, mas não podia recuar, se seu testemunho de fidelidade ao Compromisso de revelar a vontade do Pai para a felicidade de todos os seres humanos exigia falar e agir coerentemente. Daí ele gritar, – Pai afasta de mim este cálice amargo … mas não se faça o que quero …

Quem passa a semana santa como ritual tradicional, faz lembrança do que ocorreu no ao passado. Aí reza, faz penitência, faz jejum, via sacra, acompanha a procissão do Senhor morto, se emociona com a narração ou filmagem da paixão de Cristo e pronto, tudo passa e a vida continua como dantes. Para esse tipo de católico a semana santa termina na sexta-feira; já no Sábado de aleluia, vai à praia, vai à festa dançante e outras distrações. Para estas pessoas Semana Santa é lembrança do passado. Para o católico que faz memória na semana santa, a expressão é outra.

Jesus Cristo é trazido em memória aos dias de hoje. Tanto identifica a paixão continuando hoje, nos que sofrem a desigualdade social, nos marginalizados, como percebe a ressurreição acontecendo nas pessoas e comunidades que conseguem já seguir o projeto de Jesus, expresso nas bem aventuranças.

Para este tipo de cristão, o ponto mais central da semana santa é o domingo da ressurreição, quando se faz memória da vitória sobre a morte. São Paulo é quem ilustra bem essa experiência de memória quando diz em uma de suas cartas – “Se Cristo não ressuscitou é inútil nosso esforço e nossa fé… “Mas Cristo ressuscitou, venceu a morte e garantiu a todos(as) seus e suas seguidoras(es) a vitória sobre essa realidade misteriosa da morte física que abate tantas pessoas e leva outras ao fatalismo.

A vida continuará, porque Cristo garantiu e deu o exemplo com sua própria ressurreição. Daí o ponto central da semana santa, o domingo da Ressurreição, celebrando com hinos e festas, sem ovos de páscoa e coelhinhos, símbolos do consumismo capitalista que tenta subverter o sentido sagrado do acontecimento da vida retomada por Cristo.

Os rituais de memória supõem um espelhar-se nos fatos passados, um olhar sobre Jesus que amou até a última gota de sangue e ao ressuscitar ao terceiro dia e supõe também um passo de revisão de vida e conversão. Sem mudança de algum aspecto da vida pessoal e comunitária, os cristão não celebram a semana santa como memória da vitória de Cristo. Eis o desafio para cada um e uma que diz crer em Jesus Cristo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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