Presidente José Sarney,

A população brasileira ouviu, estarrecida, a notícia do pagamento de seis milhões de reais referentes a horas extras,supostamente trabalhadas, mas, realmente recebidas, por funcionários, durante o período de recesso do Senado Federal. E mais estarrecida ficou, quando foi noticiado que os senadores não poderiam saber quem de fato trabalhou, para fazer jus a esses pagamentos.

Essa notícia revela um fato, por si só, inadmissível para uma instituição republicana, qual seja, a falta de um sistema administrativo para controle das pessoas que efetivamente trabalham, revelando a ineficiência ou talvez a ausência total de um setor de recursos humanos devidamente equipado e habilitado para um rígido controle de presenças e ausências dos servidores do Senado, seja de gabinetes, seja de secretarias, etc, porquanto, os proventos, legitimamente ou ilegitimamente recebidos por eles, são dinheiro público, originário dos altos impostos pagos pelos TRABALHADORES BRASILEIROS.

Esses, sim, trabalham e suam muito para ganhar um salário nem sempre compatível com as funções e os esforços que têm de dispender durante sua jornada diária. E não me refiro ao salário mínimo que é isento de imposto, por se tratar de um salário de sobrevivência.

Ademais, clama aos céus e à terra, essa situação de privilégios a uma classe de servidores públicos, concursados ou nomeados por seus padrinhos, os senadores, quando o país começa a experimentar a recessão ecônomica nascida nos Estados Unidos, mas, como uma radiação atômica, espalhada por todo o mundo, gerando o desemprego, agravando a pobreza e aumentando a exclusão social, também, aqui no Brasil.

Por isso os pagamentos que desencadearam a situação a que me reporto são um verdadeiro acinte aos milhares de trabalhadores brasileiros que estão sendo e ainda vão ser despedidos, em função da recessão mundial, mesmo não sendo eles os responsáveis pelo descalabro econômico do Brasil e muito menos dos Estados Unidos.

Senhor Presidente, José Sarney, urge que V. Exa. se empenhe na moralização do Senado Federal, em todas as áreas, quer seja política, quer seja funcional e administrativa, cujas feridas, decorrentes de décadas de descontrole e corrução, vêm, sistematicamente aparecendo e trazendo expostas as vísceras putrefactas desse deletério descontrole político e administrativo, o qual, por sua vez, é o reflexo do sistema político vigente em nosso país.

Portanto, todas esses descalabros clamam por uma reforma política séria, responsável e que atenda às necessidades dos cidadãos e promova uma verdadeira democracia com igualdade de condições de vida, educação e saúde para todos. Que não permita uma aberração como essa, de pagamento de horas extras, duvidosamente trabalhadas, a servidores privilegiados do Congresso Nacional.

Escrevo em meu nome, mas, sem sombra de dúvidas, estou sendo porta voz da grande maioria de brasileiros, silenciosa e injustiçada socialmente por um regime político que se diz democrático, porém cria mais desigualdade social ao privilegiar os políticos e seus asseclas, em detrimento dos civis trabalhadores e dos excluídos deste país.

É necessário que V. Exa. use de sua autoridade e de sua influência política de homem probo e sensível, para coibir tais abusos perpetrados contra a população brasileira.

Nesse sentido, vale o exemplo do grande homem e memorável político, Miguel Arraes de Alencar, quando sabiamente dizia aos políticos amigos que lhe pediam conselhos: “Aproximem-se do povo”, significando, vejam suas necessidades, seus anseios, para que vendo e vivendo a realidade do povo, a classe política integrante do Senado e da Câmara possa trabalhar e fazer trabalhar a todos os seus acessores, em favor dos únicos destinatários da democracia: o BRASIL e o POVO BRASILEIRO.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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