Djanira Silva 16 de março de 2009


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Às vezes eu tinha pena de Vó Dinda. Por qualquer coisa reclamavam dela como se fosse uma criança, então, ela ria, ria como se tivesse um segredo ou soubesse de uma coisa que ninguém sabia. Nunca se queixava. A gente gostava era muito dela porque quando minha mãe nos repreendia, ela, com um simples balançar de cabeça e o riso de sempre aprovava trelas e desobediências. Ela está caducando, diziam com desprezo. A gente não sabia o que era caducando mas devia ser uma coisa muito boa porque irritava os adultos. Fiquei com vontade de também caducar. Perguntei a sinhá Maria o que era e ela tentou dar uma explicação. Não entendi nada. Desisti.

Vó Dinda guardava, embaixo da cama, uma velha mala, ali trancava com chave, tudo quanto lhe pertencia. Carregava a chave pendurada na cintura. Depois do almoço acendia o cachimbo e sentava à sombra do pé de manga onde ficava, a tarde inteira, pitando e cochilando. Uma tarde eu estava brincando com Bichano quando ele entrou e se escondeu dentro do quarto da avó. Entrei para pegá-lo. Então, vi a mala em cima da cama com o trinco levantado. Esqueci de Bichano e tratei de abrir a mala. Dentro de um saco de papel encontrei tampas de garrafas, rótulos de cigarros, caixas e vidros vazios. Embaixo das roupas, enrolada num xale, a boneca de minha irmã, desaparecida há muito tempo. Quase tive raiva da avó, deixara que eu fosse acusada injustamente. É bem verdade que eu implicava muito com minha irmã, e achei foi bom quando a boneca desapareceu.
Agora, eu sabia do segredo de vó Dinda, ela não era gente grande.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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