Dasilva 23 de março de 2009


fevereiro de 2009.

COMO ENTENDER A ATUAL CRISE (*)

Nesta véspera de carnaval, a Embraer anunciou a demissão de mais de 4.000 operários que vão engrossar a fila de mais de 800.000 pessoas desempregadas, depois de Dezembro de 2008. (Fala-se que na esteira de cada metalúrgico despedido, outros 20 trabalhadores são afetados, imediatamente). Agora, já não se pode mais tapar o sol com a peneira, seja para não estimular uma crise “psicológica” ou para dizer que a crise é só um acidente de percurso.

O tratamento da questão feita pelos empresários, pela mídia e pelos governos deveria causar indignação, em todos nós. Ninguém explica a raiz da crise, quem é seu responsável, quem ganha e quem perde com ela. Pior que isso: quando as empresas ganhavam rios de lucro ninguém veio a público para propor uma repartição com a sociedade; agora, que apenas diminuiu seus ganhos, obrigam o Estado a tapar o rombo com recursos públicos que, em teoria, pertenceria a toda a nação.

A crise atual não é apenas a crise do modelo neoliberal ou de uma mera crise financeira. (A doutrina neoliberal pregava a excelência do mercado, o afastamento do Estado da economia, a livre concorrência, o capitalismo como a realização da história…) Mas, a crise mostrou a queda do muro da Wallstreet e mexeu na própria estrutura do sistema capitalista. Pois, sua profundidade encerra um período histórico de ofensiva do capital e abre a possibilidades de um novo modelo de desenvolvimento orientado pela perspectiva da emancipação humana.

A crise capitalista tem uma lógica interna. O capital é uma riqueza que só sobrevive se aumentar, continuamente. Essa valorização permanente é empurrada pela concorrência inter-capitalista; a valorização vem da apropriação do trabalho não pago, mas cada capitalista faz isso empurrado pela concorrência. O capitalista é funcionário do capital, não tem escolha, ou valoriza o capital ou deixa de ser capitalista.

Esse processo leva ao desenvolvimento das forças produtivas, ao aumento da produtividade do trabalho, ao processo de concentração de capitais na mão de poucos e a centralização de capitais onde grupos maiores engolem os menores. Tudo isso gera uma massa de recursos que não consegue mais se valorizar na esfera produtiva: vai se valorizar na esfera financeira das ações, dos papéis, dos títulos. Essa massa financeira tende a se descolar da esfera produtiva. Essa é uma tendência do capitalismo.

Embora as primeiras manifestações da crise tenham se produzido no terreno financeiro, estamos perante uma crise de superprodução. Trata-se da tendência do capitalismo de produzir uma enorme capacidade produtiva que termina por rebaixar a capacidade de consumo da população, devido às desigualdades que limitam o poder de compra popular e isso acaba por diminuir as taxas de lucro.

O processo de super-acumulação do capital vem porque o capitalismo tende a ultrapassar seus próprios limites e entra em crise. A crise é a doença e o remédio, ao mesmo tempo, pois mostra que o processo de acumulação não tem condição de continuar e que é necessário desvalorizar capital e a riqueza: as ações caem, os preços caem. Ao desvalorizar o capital, desvaloriza a força de trabalho, gera desemprego: quando a crise chega à estrutura produtiva a empresa começa a desempregar.

Outra questão estrutural é a mudança no sistema monetário internacional que manteve a moeda estadunidense como meio geral de pagamento, mesmo com seu vínculo ao ouro, rompido. Isso abriu espaço para a generalização progressiva do mecanismo de transformar dinheiro em mais dinheiro, sem passar pela esfera produtiva. A moeda se torna virtual porque não representa mais uma riqueza real correspondente.

A atual crise pode permitir duas saídas – a superação das relações de produção capitalistas ou a saída da elite de reorganizar o capital através de um modelo de exploração e acumulação ainda mais destruidoras da humanidade. O fator que determinará a superação da crise mundial é a capacidade dos povos de se colocar enquanto alternativa de poder em cada país.

(*)Em grande parte, o conteúdo destes roteiros foi extraído e adaptado de um documento elaborado por participantes da Assembléia Popular – dezembro de 2008.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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