Há um fato novo na Campanha da Fraternidade deste ano sobre a Segurança Pública. Mal lançado o tema, ele já conta com a adesão espontânea da sociedade. Todos estão de acordo com a urgência de superar o clima de insegurança que vai se generalizando em toda parte, nas famílias, nas instituições, em toda a sociedade.
Este sentimento de urgência vem acoplado a outro, que também vai se firmando com clareza: a superação da insegurança só é possível se todos nos colocamos de acordo para enfrentar juntos o problema. Pois ele ultrapassou as fronteiras das famílias, e extravasou para a sociedade, como mancha de óleo que foi contaminando todos os ambientes, trazendo prejuízo generalizado. A segurança nos coloca a todos num mesmo barco, que não pode ir à deriva.
Ao mesmo tempo, vai emergindo outra constatação importante: não será fácil reverter a situação. Não basta enfrentar os sintomas da insegurança. E´ preciso ir às suas causas. E aí todos começam a sentir o desafio de retomar valores éticos que foram abandonados, seja no âmbito do relacionamento familiar, que faz as crianças apelarem cedo para a violência no próprio ambiente escolar, e jovens ignorarem os limites do respeito e desprezarem os direitos dos outros.
A recuperação do clima de segurança será fruto, portanto, de um longo trabalho de reeducação de toda a sociedade, num mutirão que precisará ir envolvendo a todos, numa lenta e progressiva recuperação de valores, junto com uma ação atenta, sistemática e perspicaz do poder público, que coíba firmemente as práticas lesivas ao bem comum, e estimule a ação responsável dos cidadãos.
Uma campanha sobre a segurança pública nos alerta, de imediato, que é preciso ir às causas. E perceber que são muitos os fatores que estão em jogo.
Neste sentido, o lema da campanha, alertando que a paz é fruto da justiça, não traz só o recado objetivo, sabido de todos mas nunca colocado em prática, de que sem justiça não haverá paz verdadeira. No contexto do tema, de que o lema está a serviço, a vinculação da paz com a justiça tem a intenção de sublinhar o nexo indispensável existente entre segurança pública e valores éticos, entre os quais a justiça é o mais abrangente.
Um lema, portanto, que ajuda a mostrar a complexidade do tema, e alerta para a diversidade de ações que precisam ser empreendidas.
Assim, está feita a proposta de uma campanha da fraternidade que vem ao encontro de um anseio generalizado da sociedade, e que se apresenta com a responsabilidade de quem convida para a participação.
Neste contexto fica ressaltada a importância da iniciativa da Igreja Católica, que em cada ano propõe assuntos muito pertinentes, convidando toda a sociedade para a reflexão e ação conjunta.
E´ um bom serviço que a Igreja tem condições de realizar, mostrando inclusive como os princípios que a guiam na sua razão de ser e de atuar, se constituem em valores que precisam impregnar a própria sociedade, como agora se constata nesta campanha da fraternidade sobre a segurança pública.
E´ bom o Congresso Nacional ter presente esta colaboração da Igreja, na hora de votar, neste ano, o recente “acordo” feito entre o Governo Brasileiro e a Santa Sé, e que ainda depende da aprovação do parlamento brasileiro. O que a Igreja busca não são privilégios, mas simplesmente condições de fazer bem o serviço que ela é chamada a prestar em benefício de toda a sociedade.