Certo dia, o rei levantou-se com um grande mau humor. Ao encontrar um alto funcionário da corte, chamou os guardas e ordenou que fosse preso na torre mais alta do reino. Em uma noite de lua cheia, o solitário prisioneiro ouviu ruídos aos pés da alta torre. Ao olhar pela janela viu sua esposa que bem baixinho procurava lhe dizer alguma coisa. Como não conseguia entender nenhuma palavra, resolveu esperar para ver o que acontecia. Sua esposa pegou, então, um besouro, untou suas pequenas asas com um pouco de mel, amarrou um fio bem leve em sua traseira e o colocou na parede da torre em direção da janela de seu amado. O besouro sentindo a presença do mel começou a se mover em linha reta. Por sua vez, o funcionário não conseguia ver o que acontecia, mas esperava atentamente. O besouro subiu, subiu e finalmente alcançou a janela. O funcionário libertou o inseto e começou a puxar o fio devagar e cuidadosamente. No final do fio estava amarrada uma linha grossa. O funcionário, então, começou a puxa a linha grossa. Ele a puxava e esta se tornava mais pesada. Ao seu final estava amarrado um barbante. O funcionário começou a puxar o barbante. Este também ficou mais pesado e em seu final o prisioneiro encontrou um feixe de barbantes. Curioso sobre o que poderia ainda encontrar, o funcionário começou a puxar o feixe de barbantes. Estes começaram a ficar bem mais pesados, foi quando o prisioneiro encontrou ao seu final uma forte corda. Compreendendo a idéia de sua esposa, o funcionário amarrou a corda na porta de sua sela e desceu através dela encontrando sua esposa aos pés da torre.
Naquela noite, os dois puderam fugir do injusto rei e recomeçar a vida reconquistando sua liberdade.
Segundo George Simmel, a vida busca sempre expansão, reprodução, elevação e, por último, a superação da mortalidade. A vida humana não foge à regra. Nós seres humanos fazemos de nossa vida um desenvolvimento, ou seja, um processo de constantes conquistas e realizações em busca de um estágio melhor de vida. Neste processo nos encontramos quase sempre em conflito com nosso meio ambiente que nos impõe obstáculos e limites. Na busca de aumentarmos ou prolongarmos os momentos felizes somos levados a superar os obstáculos e ultrapassar os limites do cotidiano. Sem dúvida alguma, muitos se acostumam com os problemas que possuem e se conformam com a vida. Mas, no fundo, o ser humano possui a vocação de se libertar da mediocridade e crescer. Neste movimento em busca de desenvolvimento acabamos dividindo nossa caminhada em fases. A nossa vida é única, porém, ao dividi-la em etapas, ganhamos a nítida impressão de que ela não é estática. Entender a vida em fases é o mesmo que admitirmos o nosso crescimento, a nossa luta contra a estagnação. Uma fase da vida expressa um estágio de nossa caminhada que possui determinadas características, determinado clima ou é marcado por um determinado acontecimento. “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ecl. 3, 1). A chamada primeira fase de nossa vida (infância) é vital; nela o ser humano vive seus primeiros contatos com o mundo e com os adultos que o acompanham. Apesar de não saber ler ou escrever, a criança compreenderá cada gesto e cada emoção emanados pelos outros seres humanos. A primeira impressão da vida marcará a forma do ser humano encarar o restante dela. Em uma fase posterior, o adolescente amplia suas experiências com seu universo social realizando a passagem (normalmente conflitiva) para a idade adulta. Com a transição para a vida adulta se fortalece a independência, autonomia e liberdade de escolhas do ser humano. Outras fases virão e muitas destas estabelecidas pelo próprio ser humano. A vida, porém, não é fragmentada. Todas as fases carregam marcas das anteriores e acabam construindo as futuras. Cada fase deve ser vivida dentro de suas próprias circunstâncias. “A primeira condição para ser alguma coisa é não querer ser tudo ao mesmo tempo” (Tristão de Ataíde). Assim, o segredo da vida consiste na tentativa de viver intensamente a fase que temos no agora. Muitas vezes corremos o risco de vivermos antecipadamente emoções de fases que esperamos que aconteçam. “O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário” (Sêneca). Outras vezes, queremos que uma nova fase chegue logo e acabamos deformando o momento presente com ansiedade e falta de atenção. “Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela” (Esopo). Ao vivenciarmos uma fase de nossa vida com intensidade, estamos preparando uma outra. Por isso o viver deve se concentrar no momento atual através de uma interação ativa com aquilo que ele nos oferece. “…E compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante (cada fase de) sua vida” (Ecl. 3, 12).