CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2009

Há muitos anos (desde 1964) que a Igreja Católica abre a Quaresma com uma campanha chamada de Campanha da Fraternidade. Esse é um tempo litúrgico rico pois prepara os fiéis para o acontecimento maior da fé cristã que é a Páscoa. Portanto, a Campanha visa sempre uma preparação interior, espiritual que leve a um compromisso pessoal e comunitário com algum aspecto da sociedade que esteja mais frágil. Este ano o tema é “Fraternidade e Segurança Pública” com o lema a “Paz é fruto da Justiça”. Ninguém vai estranhar a necessidade que o tema aborda. Basta olhar os jornais e ver os noticiários, que a justificativa do tema emerge de forma rápida: “Sempre se disse que a insegurança em Itaparica não é um problema pontual,Ironias da insegurança,Assassinato na Federação, Três pessoas são presas com crack, Grupo invade Delegacia e mata prisioneiro, Polícia Federal apreende mais de 1,3 tonelada de maconha”. Esses pequenos flashs mostram que de todos os cantos do país, diariamente chegam notícias de injustiças e violências tornando a nossa sociedade cada vez mais insegura, e a convivência entre as pessoas mais difícil e delicada.

A Quaresma quer ser, na ótica cristã, um grande mutirão da fé e de toda a sociedade na busca da paz, e estimular uma ação co-responsável de toda a sociedade. E também suscitar o debate sobre a segurança pública, contribuir para a promoção da cultura da paz nas pessoas, nas famílias e na sociedade, a fim de que todos se empenhem, efetivamente na construção da justiça social que seja garantia de segurança para todos. A paz buscada é a paz positiva, orientada por valores humanos como a solidariedade, a fraternidade, o respeito ao outro, a mediação pacífica dos conflitos, e não a paz negativa, orientada pelo uso da força das armas, a intolerância com os diferentes. É assim que o texto da Campanha apresenta suas diretrizes. São, ainda, propostos objetivos específicos como canais de uma ação efetiva: – Denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas ( isto é, contra a “normalidade” da corrupção brasileira);- Fortalecer a ação educativa e evangelizadora, objetivando a cultura da paz;-Denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, a fim de serem incorporadas ações educativas.

O texto apresenta três abordagens já consagradas: Ver, Julgar e Agir. Na parte Ver há uma reflexão sobre A Identidade Nacional e a Violência. Lá toca-se na própria origem da História do Brasil e de sua transmissão. Tradicionalmente, a formação do povo brasileiro foi feita de forma pacífica, resultado da convivência harmoniosa entre os diferentes povos que aqui conviveram. Contudo, essa leitura histórica é sempre questionável em sua legitimidade. A colonização sempre se caracteriza pela imposição violenta de novos valores aos colonizados, despojados dos seus valores ancestrais. A convivência com os povos indígenas nunca foi pacífica. A Campanha de 2002 já lembrou:”Não há dúvida que a partir da chegada dos europeus, os povos indígenas passaram a conviver com todos os tipos de violência”. De 2006 a 2007 foram assassinados 149 índios, em grande parte, por conta da luta em defesa da própria terra. A escravidão, negra deixou suas marcas visíveis nos nossos dias. A escravidão ocupou o centro do sistema social e econômico nas áreas de colonização portuguesa assim como em toda a América Latina e do Norte. Toda a produção econômica e toda a sociedade estavam assentadas sobre o sistema escravista.

O texto traz ainda estatísticas, de forma oficial e atualizada, sobre a insegurança nas suas múltiplas áreas: Ocorrências policiais, Crimes violentos letais intencionais, Crimes violentos contra o patrimônio, Delitos e acidentes no trânsito, Delitos envolvendo drogas, Homicídio doloso., Tentativa de Homicídio, Lesão corporal, Estupro, Atentado violento ao pudor, Sequestro , Roubo, Furto,Conflitos e homicídio no campo.

Nos primeiros séculos do Cristianismo, a Quaresma era o período em que os catecúmenos (os que se preparam para o batismo), tinham o último estágio para receber o batismo na noite de Páscoa. Essa reflexão da Campanha da Fraternidade- 09 irá nortear a Quaresma, que é o período que se estende da 4ª feira de Cinzas até a véspera do Tríduo Sacro na Semana Santa.

(*) Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do IGHB ,do Instituto Genealógico e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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