Dasilva 21 de fevereiro de 2009

Roteiro para debate, reunindo idéias de vários autores.
oito de outubro de 2008.

Toda pessoa gosta de ter poder, se sente feliz com ele. O poder faz parte da natureza humana: só quem tem poder, de forma individual ou coletiva, afirma-se e influi no seu destino e no destino da sociedade. Quando alguém diz que não quer o poder é sinal que ela, ou já tem o poder e disfarça, ou é incompetente para tanto.

O poder se cristaliza nas instituições civis e estatais como exercício de direção e domínio de um grupo sobre a sociedade. O poder surge nas relações sociais e se encontra presente na reprodução dos sujeitos sociais, no espaço público e no privado.

Todas as relações estão impregnadas e implicam em poder. O poder consiste na possibilidade de decidir sobre sua própria vida e sobre a vida de outro ser humano ou em uma intervenção com fatos que obrigam, circunscrevem, proíbem ou impedem.

Quem exerce o poder, hoje, submete e inferioriza as demais pessoas, impõe fatos, exerce o controle, arroga-se o direito ao castigo e à privação de bens reais e simbólicos. Ou seja, domina. A partir dessa posição de poder julga, sentencia e perdoa. E ao fazer isso, acumula mais poder.

A posse unilateral de valores, a especialização social excludente e a dependência estruturam o poder, desde sua origem, e permitem sua reprodução. O poder só é entendido como poder quando alguém cumpre os requisitos anteriores e se coloca em posição de exercer o poder sobre o outro, para domínio, controle, direção da vida do outro, para expropriação de seus bens materiais e simbólicos.

Todos os fatos sociais e culturais são espaços de poder: o trabalho, as atividades vitais, a sabedoria, o conhecimento, a sexualidade, os afetos, as qualidades, os bens e posses, reais e simbólicas, o corpo e a subjetividade, o próprio ser humano e suas criações. Por isso, existem, os poderosos: os que possuem elementos de poder por sua classe, gênero, riqueza econômica, social ou cultural, nacionalidade, sexo, cor da pele, idade, etc.

A classe oprimida também tem poder porque o poder não é unidirecional; sucede no espaço das relações sociais. Porque o exercício do poder é dialético: cada pessoa exerce poder ao interagir. O mais débil dos oprimidos tem e exerce o poder de ser o espaço de opressão do outro que necessita dele para existir.

O poder, como auto-afirmação dos indivíduos para viver a vida, define-se em sentido positivo e não implica na opressão de outros. A esse poder aspiram os oprimidos. Para eles o poder nunca deveria criar a postura de chefe, nem os abusos no uso do poder seriam razão para ter medo de querer o poder. O desafio permanente será com+ordenar sem autoritarismo, com+duzir sem manipulação, com+mandar com+partilhando o poder e fazer cumprir os acertos coletivos, acima das vaidades e caprichos individuais.

O esforço para “desconstruir” o poder que estrutura os oprimidos e “construir” o poder, como instrumento da vida e da convivência solidária, exige que se tome consciência:

a. Da dependência vital – O poder, hoje, é opressivo porque concentra poder de classe, poderes nacionais, étnicos e culturais, poder sexual, poderes patriarcais. A dependência vital é econômica e como classe social, mas há outras formas de dependência: social, jurídica, afetiva, erótica, política… É possível substituir uma dependência por outra, em um mecanismo de reprodução da dependência.

b. A impotência aprendida – A impotência é a expropriação da capacidade de poder: anula-se o “eu posso” e se desenvolve o “eu posso tudo para os outros”. A impotência aprendida não necessita o julgamento de fora, porque a pessoa já é a própria polícia para autocontrolar-se, autoimpedir-se.

c. A servidão voluntária – A classe é construída como servidora para dar tudo ao outro, em uma relação de dominação, sujeita ao domínio do outro, inferiorizada. A partir de um complexo mecanismo que se reproduz inconscientemente, em séculos de história, nas formas de servidão voluntária. Quanto mais autoritárias e mais atrasadas economicamente são as relações de poder, maiores são os traços despóticos desse tipo de servidão.

Transformar as pessoas em sujeito histórico exige a desmontagem de todos os mecanismos que reproduzem a dependência vital, a impotência aprendida, a servidão voluntária como elementos do poder estruturados em nós. Porque, uma vez submetidas a essas formas de poder, as pessoas exercem o poder de maneira alienada. Esse outro poder ainda é uma construção: é uma aspiração com algumas experiências, individuais e coletivas, e com alguns elementos mais desenvolvidos que outros.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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