Marcelo Barros 24 de fevereiro de 2009


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Com esta quarta-feira, os cristãos de Igrejas antigas (católicos, anglicanos, luteranos, etc) iniciam o período da Quaresma, em preparação mais intensa para as festas pascais. Cada ano, a Campanha da Fraternidade propõe um assunto social para comprometer os cristãos em um processo de mudança interior e social. Celebrar não é só cultuar. Neste ano, o tema escolhido pelos bispos católicos é o problema terrível da segurança pública, um assunto que parece quase inútil ou utópico querer mudar no Brasil. Parece até algo impossível de superar, desde a violência doméstica (vocês sabem ainda qual a percentagem de marido que mata mulher ou amante?)), até a violência do trânsito e o nível que todos conhecem na sociedade de criminalidade, como agressões, assassinatos e seqüestros. Histórias exploradas e super-explorada pelos meios de comunicação de crianças jogadas de edifício e menino arrastado por ônibus ou, sei lá, carro de traficante. Uma calamidade quase epidêmica e mortal. Entretanto, a Campanha da Fraternidade está apostando que muda isso. A frase lema da Campanha é “A Paz é fruto da Justiça” (Isaías 33, 17). Várias outras Igrejas estão dispostas a colaborar.

Para quem é cidadão, a mudança só ocorre por uma transformação cultural. Temos de nos educar para a convivência não violenta e pacífica. A paz não é natural. Estabelece-se como ação e opção humana. A campanha quer atingir escolas, meios de comunicação e a sociedade em geral e não só ambientes de Igreja. Várias empresas já deram o seu acordo em colaborar. É claro que um elemento importante da questão da violência é a formação que nossos policiais ainda recebem, o racismo espalhado pelas ruas e a situação do tráfego de drogas. Quantos problemas. No Espírito Santo, não faz muito tempo, policiais civis faziam curso de não violência ativa em um mosteiro budista. Em Goiás, se multiplicam encontros e grupos de educação para a Paz. E A UNIPAZ (Universidade da Paz) mantém em Goiânia uma atividade permanente e excelente. Podemos ter esperança e entrarmos nós também neste mutirão.

A escolha deste tema da CF 2009 tem a ver diretamente com a Páscoa, memorial da morte e ressurreição de Jesus.

Na tradição judaica, a festa pascal se chama “Pezah zeman herutenu”: “a estação da nossa libertação”. Os cristãos herdaram a Páscoa das comunidades judaicas e estas a receberam de antigas religiões que festejavam a primavera. A Páscoa nasceu com as comemorações dos antigos em torno da primeira lua cheia da primavera. Conforme a Bíblia, foi numa noite de Páscoa da natureza que Deus fez o povo hebreu passar da escravidão à liberdade. Foi também quando se celebrava a Páscoa que Jesus de Nazaré foi preso e assassinado. Morreu na cruz, suplício com o qual os romanos matavam os escravos rebeldes, na tarde da sexta feira, exatamente na hora em que as famílias de Israel sacrificavam o cordeiro pascal para recordar a sua libertação. Na madrugada do domingo que seguia o grande sábado da festa, Jesus deixou-se ver, vivo e vencedor da morte. Ser discípulo(a) de Jesus é testemunhar ao mundo essa energia da ressurreição, atuante nele e, por seu Espírito, em todas as pessoas que acolhem sua proposta de viver o reino de Deus. Neste ano, fazemos isso nos comprometendo com uma vida segura para todos e mais feliz.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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