Operação Valquíria retrata o último dos 15 atentados contra a vida de Adolf Hitler e é mais uma tentativa de redimir o país da iniquidade do nazismo

(www.rebelo.org)

Não se engane. Longe de ser um filme de guerra, de ação ou simplesmente um “filme com Tom Cruise”, Operação Valquíria (Valkyrie, EUA/Alemanha, 2008), cuja estréia ocorre nesta sexta-feira nos cinemas do Recife, é um registro histórico, bem amarrado e conciso, prendendo a atenção do espectador desde os primeiros minutos. Um suspense sem sustos, um drama sem choros, um documentário sem a linguagem típica.

Há registros históricos sobre 15 atentados contra a vida de Adolf Hitler. Operação Valquíria retrata exatamente o último – e mais conclusivo – ocorrido a 20 de julho de 1944. E aqui, não se engane novamente. Não estamos falando de heróis, embora o roteiro deixe de lado inúmeros pormenores, com fins claros de entretenimento. Para o cinema, parece não ser interessante saber que Claus von Stauffenberg (Tom Cruise) pode não ter sido tão altruísta assim.

Fiel escudeiro do exército alemão, condecorado e ferido quase mortalmente durante uma incursão militar na África, o coronel Stauffenberg tornou-se um dos principais mentores e o protagonista do plano para assassinar Hitler.

Operação Valquíria é, antes de mais nada, a redenção da Alemanha. A aflição dos alemães que, mesmo tardiamente, tentaram se rebelar contra Adolf Hitler e tudo aquilo que ele passou a representar para o mundo. Uma redenção para retirar a mancha que perdura até hoje na bandeira alemã, por mais que tentem lavá-la.

O contexto histórico deixa o filme ainda mais curioso, sobretudo ao perceber como os registros sobre o complô estão registrados em tantos livros, até mesmo em produções menores do cinema alemão, mas somente agora, 65 anos depois, é “revelado” para a audiência mundial com o orçamento milionário de Hollywood e as planejadas divulgações dos estúdios.

Envolto em polêmicas com o governo alemão por causa da cientologia de Tom Cruise (ele também é um dos produtores executivos), a Fox orquestrou uma verdadeira operação de guerra para divulgar Operação Valquíria na maior quantidade possível de países, levando o próprio ator, a esposa Katie Holmes e a filha Suri sempre a tiracolo.

As duas horas de duração parecem pouco para a trajetória do motim liderado por Stauffenberg. Tão pouco que o diretor Bryan Singer (X-Men, Os Suspeitos) resolveu fechar o cerco em meia dúzia de ótimos atores – Kenneth Branagh, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Terence Stamp etc. – na condição de coadjuvantes de luxo.
Ruim para a excelente atriz holandesa Carice van Houten (de A Espiã / Black Book, 2006) ao aparecer na tela somente duas vezes, inexpressivos segundos, no papel da esposa de Stauffenberg.

LIVROS EXPLICAM MELHOR O MOTIM

Com o objetivo primário de entreter a platéia, os detalhes históricos deixados de lado são a principal a falha de Operação Valquíria. No entanto, também é o principal trunfo comercial do filme, cuja bilheteria tem superado as expectativas do estúdio, principalmente fora dos Estados Unidos.

Não é fácil fazer um suspense quando todos já sabem o desfecho antes mesmo de entrar na sala do cinema. Como se sabe, Hitler não morreu em nenhum dos atentados e todos os complôs falharam. Conseguir prender a atenção do espectador, no limiar entre o entretenimento e o didático, por si só, é a maior das conquistas de Operação Valquíria.

O resumo de viés didático também funciona a longo prazo, para aqueles que desejam se aprofundar mais na história e nos contextos por trás do motim. De carona na estréia nacional, as editoras brasileiras já lançaram três livros relacionados: Operação Valquíria, de Tobias Kniebe (Planeta, R$ 44,90); Operação Valkíria, de Jesús Hernandez (Novo Século, R$ 39,90); e Operação Valquíria – O complôcontra Hitler, de Philipp Freiherr e Von Boeselager (Record, R$ 34). O livro definitivo, contudo, é de Hans Bernd Gisevius e chama-se Valkyrie: An Insider’s Account of the Plot to Kill Hitler, de 1947 em dois volumes e com relançamento internacional agora em 2009.

A real participação dos alemães e a quantidade de insubordinados no exército alemão é deveras subestimada pelo filme, propositalmente, numa estratégia do diretor de não perder o foco nos principais personagens e na concisão. O movimento liderado por Stauffenberg envolvia, supostamente, pelo menos 700 oficiais de patente e foi muito, mas muito mais complexo e delicado do que se vê no cinema.

ENTREVISTA // TOM CRUISE

Seu personagem é um herói da 2ª Guerra Mundial. Qual é o paralelo que você faz entre ele e outros heróis que você interpretou no cinema?
Este foi o mais diferente de todos, sem dúvida. Foi muito bom estudar a história por trás do ocorrido e perceber que houve, sim, uma resistência dentro da Alemanha contra Hitler. Os outros heróis que fiz no cinema foram legais, mas Stauffenberg é diferente, tem um lado família, o lado pai, o lado dos seus filhos com quem ele não pode conversar sobre nada.

Você acha que na vida real o coronel Stauffenberg estava procurando a redenção?
Não acho que ele estivesse querendo redenção, mas apenas fazer o que considerava certo. É muito importante ver o lado família, como os pais amam os filhos e os filhos amam os pais.
Você teve liberdade para fazer o personagem?

Sim, porque não fizemos um documentário. Fizemos cinema, um thriller de suspense dramático. O que fazemos de melhor é isso, entreter a audiência. Não há segredos, nosso objetivo é agradar o público, acho que cinema éisso. Faço filmes para as massas, para a audiência mundial.

O que você achou da resistência do governo alemão em relação às filmagens?
Não houve toda essa polêmica, acho que a internet ajudou a divulgar versões fantasiosas e nem sempre realistas. Tenho lidado com controvérsias desde o início da minha carreira, é como se houvesse um microscópio em cima de mim e de tudo o que faço.

Qual foi o momento mais emocionante durante as filmagens?
Sem dúvida é quando me aproximo para assassinar Hitler. Foi uma satisfação pessoal, poder chegar tão perto de matá-lo, mesmo sendo apenas no cinema.

Operação Valquíria é o filme da sua vida?
Não sei. Todo filme é importante para mim, é fascinante. Adorei todos os meus filmes, Top Gun, O Último Samurai, todos eles.

(*) o jornalista viajou a convite da Fox Film do Brasil // as perguntas foram feitas por parte dos 200 jornalistas presentes à coletiva de lançamento do filme, no Rio de Janeiro.

OUTROS FILMES SOBRE O COMPLÔ
The Desert Fox: The Story of Rommel (1951)
Es geschah am 20 Juli (1955, documentário)
de:Der 20 Juli (1955)
The Night of the Generals, de Anatole Litvak (1965)
Biografia de Claus von Stauffenberg (1968)
War and Remembrance, capítulo 10 (série de TV, 1988)
Stauffenberg – Verschwörung gegen Hitler (1990)
The Plot to Kill Hitler (1990)
Die Stunde der Offiziere (documentário, 2004)
Stauffenberg (2004)

Obs: Artigo publicado no Diario de Pernambuco. ( 12.02.2009)
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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