Padre Beto 19 de fevereiro de 2009


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Certa vez, um jovem foi visitar um sábio que vivia em sua região. Depois de ser muito bem recebido, o jovem foi logo ao assunto: “Eu simplesmente não consigo entender meus pais. Nós brigamos praticamente todos os dias. Para mim eles são muito antiquados. Eu tento explicar a meus pais que o mundo mudou, mas eles não conseguem ser modernos em nenhum sentido. O que eu devo fazer? Se continuarmos assim, com certeza terei que sair de minha casa!” O sábio, com um sorriso irônico, respondeu: “Meu jovem amigo, eu entendo você muito bem. Quando eu era jovem, meus pais também não tinham maturidade suficiente para me entender. Eu quase não podia agüentar. Mas você deve ter paciência com as pessoas de mais idade. Elas se desenvolvem mais devagar. Com certeza, em alguns anos seus pais já terão aprendido muito sobre a vida, de tal forma que você poderá conversar tranqüilamente com eles. Acredite ou não, hoje, quando eu preciso de um conselho, eu procuro meus pais. Fique tranqüilo, seus pais um dia amadurecerão!”

Se não ficarmos somente fixados na estética produzida pelo marketing dos diversos meios de comunicação de massa, mas olharmos com mais atenção ao nosso redor iremos perceber que a paisagem humana em nosso país está passando por uma transformação. Graças ao progresso da medicina, algumas melhorias nas condições sociais e econômicas (ainda longe de serem ideais) e um certo controle demográfico (até que enfim o brasileiro está começando a planejar sua família e descobrindo a necessidade do uso de anticoncepcionais), a expectativa de vida do brasileiro tem aumentado provocando, assim, modificações no rosto de nossa sociedade. Segundo o último censo do IBGE, em 2000, o número de idosos no Brasil atingiu cerca de 8,6% da população, o que equivale a 15 milhões de pessoas. Para os próximos vinte anos, a previsão é de que esse número aumente para 15% do total da população. Sem dúvida alguma, estamos longe ainda da realidade dos países europeus, mas, lentamente, e sempre na mesma direção, nos transformamos em um país jovem de cabelos brancos. A longevidade constitui uma qualidade e os cabelos brancos possuem, sim, muita beleza, mas, ao mesmo tempo, exige uma mudança em nossa visão de mundo. Talvez, a primeira característica de uma nova mentalidade deva ser o rompimento de determinadas convenções. Normalmente costumamos selecionar as pessoas de acordo com a quantidade de anos vividos e esta seleção é geralmente acompanhada por uma desvalorização daqueles que possuem mais idade. Assim, construímos clichês do tipo: jovem é sinônimo de vitalidade, as pessoas de meia idade são as que possuem responsabilidade e geram produtividade e os idosos, ou melhor, as pessoas que pertencem à “terceira idade”, são, muitas vezes, vistas como inúteis ou ultrapassadas. Todo “rótulo” não só é discriminante, como também não corresponde à realidade. Independentemente da idade que possuímos, todos nós nos caracterizamos como pessoas humanas, ou seja, seres que estão em pleno desenvolvimento. Cada um, independentemente de sua idade, possui suas experiências de vida e todos, sem nenhuma exceção, amadurecem com o passar do tempo. Neste sentido, não existe ninguém que tenha tanta maturidade que não possa aprender algo novo e não há ninguém tão imaturo que não tenha algo a oferecer. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” (Cora Coralina). O envelhecimento humano começa a partir dos 30 anos, com o início da queda funcional do sistema respiratório e do tecido muscular. Mas, todos nós temos um ritmo próprio de desenvolvimento. Algumas pessoas passam muito cedo por experiências que lhes ensinam muito sobre a vida, outras precisam de muitos anos para compreender o sentido de sua própria existência. Outros amadurecem ainda jovens, enquanto outros bem mais tarde. “Cada um de nós é um universo” (Raul Seixas). Há pessoas com mais de 60 que estão cheias de vitalidade, enquanto outras abaixo dos 18 já muito envelhecidas. “Estar cheio de vida é respirar profundamente, mover-se livremente e sentir com intensidade” (Alexander Lowen). Sem dúvida alguma, as pessoas idosas no Brasil possuem o direito a uma ótima aposentadoria, entrada livre em ônibus coletivos, em cinemas, etc. Isso se deve não porque são pessoas de mais idade, mas sim porque deram seu suor trabalhando muitos anos pelo nosso país, o que significa justiça social e não ato de caridade. Acredito ser fundamental superarmos os mitos da juventude e da velhice e nos compreendermos como seres humanos que possuem muito a dizer e muito a ouvir. “Depois de algum tempo você… aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha” (W. Shakespeare).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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