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Vasto território cobiçado,
Coloração esverdeada,
Intrínseca floresta viva,
Caminhos cristalinos são passagens,
Seus cardumes são agentes da vida.
Sua riqueza é diversa,
Muito além do mineral,
Está em cada ser vivo,
Animal ou vegetal.
Mas o bicho homem destrói,
Avança inescrupuloso,
Diz-se o dono legal de nossa grande riqueza.
Explora com muita ganância,
Nem liga para tamanho mal,
Não se importa com nossa gente cabocla,
A modernidade em seu restrito conceito
É uma Amazônia habitada, devastada.
Nosso colorido se vai em gaiolas,
Prisão minúscula da nossa fauna,
Nosso verde se transforma em madeira serrada,
Nosso singular ecossistema
Ainda luta contra o fogo criminoso.
Mas nossa resistência se esvai,
São máquinas pesadas demais
E seu peso e destruição são insuportáveis para nossa gente.
E assim já sentimos saudade,
Coisa simples para o explorador desumano,
Mas de um significado ancestral para quem é filho desta terra.
Nas madrugadas nem sempre frias
Não ouço mais o canto da aracuã,
Saracura fez morada longe,
O Japim ou Xexéu não imita outros pássaros,
Sabiá, esse é raridade,
Uirapuru é lenda bonita de sorte,
Até o lamento da popular Rolinha está mais distante.
Não consigo ouvir a festa de gritos dos Guaribas,
O assobio do Macaco-Prego se foi,
O canto do Jacu se tornou arisco,
Até o Boto está menos namorador.
Papagaios, Araras, Periquitos e Maracanãs
Eram bandos barulhentos,
Agora são apenas duplas silenciosas,
As Curicas comedoras de arroz fazem parte das lembranças de menino.
Nossa Sururina de canto longo e triste
Desapareceu com as arapucas, nossas armadilhas de moleque.
Do Urutau, só restou o lamento fúnebre,
Até os sapos não se alegram com as chuvas de inverno.
E segue nossa tristeza,
Quanta riqueza indo embora,
Nossos peixes diminuindo, nomes modificados.
Adulto, era assim chamado: Tambaqui,
Mas hoje só tem Bocó,
Da enorme Pirapitinga, lembrança,
Pequena é Pacaré,
Jatuarana brigona,
Só se fala Matrinxã,
Mesmo o peixe gigante
Pirarucu dos grandes lagos,
Agora só se vê Budeco,
Curimatá é Curica
O Pacu virou Botão,
Branquinha é quase charuto
Piraíba é Filhote,
Tucunaré, tucunarezote,
Surubim, esse perdeu no nome,
Surubi de tão pequeno que é.
E vai aumentando a saudade
Quando em nossa conversa cabocla
O assunto é caçada de sorte,
Veado do chifre encorado está quase em extinção,
Tatu Canastra, só os grandes buracos na terra,
Paca, Tatu-bola, Cutia,
Comida cada vez mais rara.
Nossa Anta é tapir em zoológico urbano,
Mutun voou pra bem longe,
Cujubim em terra distante,
Queixada e Caititu não têm bandos como antes.
Ainda temos muito…
Mas a saudade é um alerta natural de que é preciso preservar!!

(*) José de Alencar Godinho Guimarães
Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Pedagogo Formado pela UFPA

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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