Temos observado, em Belém, 123 mil pessoas de todos os continentes do mundo se reunirem para formular propostas sobre como tirar dos rios da Amazônia o nível de mercúrio, que está ameaçando permanentemente povos na sua sobrevivência. Por mais que os problemas sejam gravíssimos, a maioria da juventude é de uma cultura cuja pressão que faz é por causa da multidão, e estes expressam pela dança e pelos rituais da terra.
A água se tornou a mais delicada questão política e estratégica do mundo. É assunto central em todos os encontros internacionais e fóruns sociais. Kofi Annan, secretário-geral da ONU, alerta que a água se torna motivo de graves conflitos internacionais.
“Um relatório secreto, feito por consultores do Pentágono, teve sua divulgação proibida pelo presidente Bush e, por isso, foi retirado de circulação pelos chefes da Defesa norte-americana. Mas, o jornal inglês Observer o obteve e divulgou. Esse documento adverte que, dentro de poucos anos, grandes cidades européias ficarão submergidas pelos mares, enquanto a Grã-Bretanha terá um clima “siberiano”. Conflitos nucleares, grandes secas, fome e tumultos generalizados acontecerão ao redor do mundo. (…) O acesso à água se tornará um campo de batalha. O Nilo, o Danúbio e o Amazonas são mencionados como sendo de alto risco.
Para não desgostar a indústria automobilística e as empresas de petróleo, o governo norte-americano deixou de assinar o Protocolo de Kyoto que se propunha a reduzir, em apenas 7%, as emissões de gases tóxicos que destroem a camada de ozônio e provocam tantos desastres ecológicos. Agora, para não mudar o rumo da civilização da guerra e do lucro, o presidente Bush esconde a realidade debaixo do tapete e põe todo o planeta em risco. Será que este terrorismo de Estado não é tão terrível ou pior do que a loucura dos fanáticos que cometem atos criminosos contra a sociedade civil?
Ainda bem, cada vez mais, uma porção maior da sociedade internacional se conscientiza e se mobiliza para cuidar da água como dom da vida e bem comum de toda a humanidade. No Brasil se formam comitês de defesa das bacias e voluntários se especializam em recuperar nascentes, antes consideradas destruídas. Entretanto, de nada valerá estes esforços se não transformarmos a cultura vigente. Há muitos que sabem o preço de todas as coisas, mas desconhecem o verdadeiro valor que elas têm. Há os que acreditam que até todas as pessoas têm seu preço e, com dinheiro, conseguem aprovação para projetos anti-ecológicos que nunca deveriam ser permitidos. Diante disso, temos de testemunhar: a água não é elemento banal e menos ainda mercadoria. É constitutiva de nossas culturas e espiritualidade. Somos parte integrante do ciclo global da água. Através do sangue e do líquido amniótico, como de todos os fluidos do corpo, a água nos liga à terra e ao universo. Já no século XIV, no Irã, dizia um poeta islâmico: “Se deixas que apenas uma gota d’água possa penetrar nas fendas do teu coração, dali emergirão cem oceanos de águas límpidas e benfazejas”.
Nestes mesmos dias, em Bruxellas, Riccardo Petrellla, cientista europeu, coordena um grupo internacional de peritos para pedir à ONU uma lei que criminalize poluir um rio, castigue quem desmate floresta.
Nestas cúpulas nosso futuro é garantido.
Vamos cuidar de fechar mais nossa água do banheiro e procure selecionar o lixo orgânico, do outro, porque impediremos que isso vá para os rios.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.