Paulo Rebêlo 1 de janeiro de 2009

dezembro.2008
(www.rebelo.org)

O mundo só se torna um lugar interessante quando há opções. Sem elas, o trabalho se transforma numa rotina sufocante a qual as pessoas não conseguem sair. O trânsito se torna um companheiro que você nem sente mais, talvez como o próprio companheiro que divide o teto e as contas da casa com você.

O pior do natal é a falta de opções. E o pior das opções é o medo das pessoas. O marasmo, a rotina e a sangria vão engolindo suas alternativas de ontem. Para hoje você concluir que a viagem de amanhã não poderá ser feita. O emprego que tanto quis, fechou. E a pessoa que tanto amou, se foi.

Mesmo quando todas as opções se esgotam, elas continuam lá. Difícil é o medo de assumir frente ao espelho que o mundo lá fora nos dá opções. De revolta, de rebeldia, talvez à revelia. De ficar, de ir embora. De migrar, de gritar, de chorar. Medo pelo fim de algo que deixou de existir ou, quem sabe, sequer tenha existido.

Sem elas, as opções, uma pessoa qualquer se transforma numa prisão frente ao medo de a perder. Como se a gente fosse embora e, conosco, as opções fossem junto.

É feito matéria de jornal. Todo ano, a mesma coisa. O natal dos mendigos, dos desabrigados, dos sonhadores, dos ingênuos cavando um lugar no céu distribuindo sopa na rua. O jornal não tem opção, mas as pessoas têm.

Muita gente tem medo de passar um natal sozinho, de virar o ano em casa vendo televisão. De revirar as memórias. Mas o medo maior é a opção de ser livre para criar suas próprias opções. Como se os dias não fossem apenas números e as noites não fossem apenas dias.

E a gente faz lista, faz promessas para o ano seguinte. Há dez anos, a mesma matéria de jornal na qual somos os personagens. A promessa de mudar, de ser uma pessoa melhor. Como se as pessoas mudassem por opção. Há dez anos, a promessa de um ano melhor. E quão melhor é um ano melhor? Ninguém sabe.

Vamos ser mais generosos, fazer exercício, dar mais atenção aos filhos. Mas ninguém diz “vamos esquecer”. Esquecer os erros, as promessas. Esquecer as pessoas.

Todo mundo quer esquecer o passado, mas ninguém quer esquecer o futuro, com medo de que hoje você tenha se tornado tudo aquilo que sempre tentou fugir para o seu amanhã. Mas como se esconder do tempo? Se o tempo tem asas, resta apenas o mundo de opções, este mundo que é apenas um momento.

Passou este verão, outros virão. Outros passarão. Nenhum outro momento será igual ao seu, mas, ao menos, que no momento que vem fique tudo bem.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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