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Arcebispo emérito de Maceió.

No doloroso episódio da morte da menina Eloá, assassinada brutalmente pelo seu ex-namorado Lindberg, que esteve demoradamente na mídia de todo o país, chocaram-me dois fatos opostos, pouco abordados na chamada “grande imprensa”.

O primeiro refere-se ao aparecimento, quase vindo das sombras, de seu pai, que assim como surgiu, em virtude de problema cardíaco, acontecido com a notícia do seqüestro da filha, assim também misteriosamente desapareceu como por encanto e voltou às trevas, onde se ocultara por tantos anos. Vimo-lo na televisão em cadeia nacional, transportado numa maca e socorrido por médicos e enfermeiros, com uma breve informação na imprensa escrita e depois sumiu inexplicavelmente como aparecera. Tratava-se – ao que foi dito – do cabo Everaldo, famoso perseguido da polícia de Alagoas, por se tratar de personagem envolvido no assassinato do delegado Lessa, que era irmão nada menos do que do governador Ronaldo Lessa. Não li nenhuma explicação da polícia para esse fato misterioso. .

Mas se foi triste a tragédia da menina de l5 anos, houve também algo de belo, que pretendo comentar neste artigo. E foi a doação a doentes graves dos órgãos da adolescente, brutalmente tirada da vida. Com este gesto generoso, que a família num momento trágico e doloroso realizou, podemos afirmar com certeza e alegria: O AMOR VENCEU O ÓDIO!

Sim, a doação de órgãos é um supremo gesto de amor, que alguém ou sua família celebra, por ocasião da sua morte ou de seu ente querido. Tive um colega, Padre Olímpio Gabriel Martins Ferreira, de importante família carioca, que faleceu a 2 de janeiro de 2006 na Casa Inspetorial dos Salesianos em Belo Horizonte e doou seu corpo à Faculdade de Medicina após a morte, deixando escritas essas comoventes palavras:
“Já estão penetrando em nossa cultura brasileira a beleza e importância humana e cristâ da doação de órgãos em vida ou após a morte. Se esta é uma excelente forma de caridade fraterna, sem dúvida alguma, é mais excelente ainda a doação do corpo inteiro. Essa, além de incluir todos os órgãos aptos, também facilita a utilização dos órgãos, tecidos e células para fins terapêuticos e de pesquisa científica e para o aprendizado dos alunos.”

“A conclusão é óbvia – continua o Padre Olímpio – doar o corpo inteiro é o último e mais completo ato de caridade fraterna corporal após a morte. Está na hora de os cristãos (consagrados, religiosos e seculares) colaborarem com o exemplo para incentivar essa cultura da doação de órgãos. Em alguns países da Europa e da América Setentrional, 90% dos corpos utilizados para pesquisa e aprendizado são doações espontâneas. No Brasil, por enquanto, não chegam a 0,5%.”

Os dispositivos legais da legislação brasileira sobre o assunto podem ser encontrados no site www.ghente.org/doc_juridicos/lei 9434.htm.
Realmente, o Amor vence o Ódio, quando numa circunstância tão triste como foi o assassinato da menina Eloá, a doação de seus órgãos cobriu a iniqüidade do crime que a vitimou.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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