Costuma-se citar o episódio de Damasco como o momento da conversão de S. Paulo. Não há dúvida de que Paulo sentiu fortemente o impacto do seu encontro com o Cristo que se manifestou a ele e interpelou sua postura de perseguidor.

Mas foi só o início de sua conversão. Porque na verdade ela implicou um longo caminho de aprendizagem e de ascese pessoal, que lhe custou muitos embates no seio da própria comunidade cristã, no esforço de domesticar seu impetuoso temperamento.

O próprio Cristo tinha indicado a Ananias, o discípulo de Jesus que acolheu Paulo em Damasco e o batizou, que ele aprenderia quanto deveria sofrer.

Narra a Bíblia que já em Damasco o jovem convertido causou confusão, a ponto de precisarem descê-lo pelos muros da cidade para escapar dos judeus que o queriam matar.

Indo para Jerusalém, lá também precisou enfrentar a desconfiança dos cristãos que o tinham conhecido como perseguidor. Sentiu de novo o peso do seu temperamento impulsivo, que lhe criava facilmente atritos com os seus próprios irmãos de fé. Tanto que julgaram oportuno conduzi-lo de volta a Tarso, sua terra natal, para que lá, no contexto de suas origens humanas, curtisse mais lentamente a profunda transformação que a fé cristã tem a força de realizar em cada pessoa humana.

O processo da conversão de Paulo serve de interpelação, que questiona a superficialidade de nossa adesão ao Evangelho. Cada um de nós também precisaria de bom estágio em Tarso, para amadurecer nossa adesão a Cristo e ao seu evangelho.

Um lance que geralmente passa desapercebido é o longo silêncio que Paulo curtiu, depois do seu encontro com Cristo em Damasco, e depois dos primeiros embates que ele teve, na qualidade agora de cristão convertido, tanto em Damasco como em Jerusalém.

Pela brusca mudança ocorrida em sua vida, e também por seu temperamento impetuoso, S. Paulo suscitou muitas tensões, tanto internamente na comunidade dos cristãos, como frente aos seus antigos companheiros de religião, os judeus, com os quais Paulo passou a discutir para explicar suas novas razões de fé.
Em vista destas tensões, os cristãos de Jerusalém o convenceram a se retirar de cena, voltando para a sua terra natal, para onde foi caridosamente acompanhado.

Isto acabou sendo providencial para Paulo, como se comprova pelo seu próprio depoimento nas diversas narrativas que faz de sua vida. No silêncio de Tarso, ele pôde aprofundar a compreensão da verdade sobre Cristo, com certeza cotejando-a com os ensinamentos que ele tinha aprendido na escola de Gamaliel em Jerusalém. À luz do seu encontro pessoal com Cristo em Damasco, e com outros encontros com o Senhor que ele próprio testemunha terem acontecido, Paulo foi repensando sua visão de fé, e foi percebendo em Cristo a grande chave de compreensão do mistério salvífico de Deus, com o qual Paulo foi se identificando sempre mais.

Até que surgiu para Paulo a grande oportunidade vocacional de sua vida. Barnabé, o homem justo que o tinha acompanhado a Tarso, lembrou-se de Paulo quando precisava de alguém que o ajudasse a trabalhar na florescente comunidade cristã de Antioquia. E foi buscar Paulo em Tarso, e levou-o para Antioquia. A partir daí Paulo se viu associado aos passos mais estratégicos que a Igreja Primitiva foi dando para levar o Evangelho ao império romano e ao mundo todo.

Só depois de bem convertidos, podemos realizar um válido trabalho missionário!

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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