31 de janeiro de 2009
Colei minha imagem no espelho da minha vida e espantada percebi que muito pouco se encaixava nas figuras coladas. As imagens ainda eram minhas, mas com variadas mudanças. Sutis tons esfumaçaram meu contorno corporal. O ar perolado da minha face foi substituído por outro, pálido, quase sem vida. O som da minha voz não tem mais o tom felino da juventude perdida. As minhas mãos não seguram com vigor o destino que esbarrou na parede invisível dos sonhos que não se realizaram.
Creiam-me, apenas minhas pegadas estão iguais, firmes, que deixam na areia, marcas que o tempo não conseguiu modificar, mantendo a minha vida com as mesmas características que me tornaram essa pessoa que leva nos olhos a saudade, nos ombros a esperança no legado semeado e, faceira, sorri quando percebe que se recordam da minha pessoa como a imagem que tinha ontem, criatura perfeita, que vive a vida como ela lhe chegou, cheia, plena de expectativas, ímpar no que me oferta a cada segundo da existência, na história escrita para mim e, que me convida, dia após dia, a continuar a acreditar que ela começa quando cremos nela e no poder de sermos proprietários da semente plantada no seio materno e arremessada para o mundo, cheia de vida, digna de ser cultivada com amor, guiada para outras vidas, com alegria, que reflita no espelho da vida, a felicidade que sai de dentro de cada um de nós e explode quando um coração toca noutro coração.