Dói-me olhar da minha janela e ver a parafernália montada na Praça do Entroncamento (um aprazível recanto situado no final do Parque Amorim e no começo do bairro das Graças, em Recife), sob o pretexto de homenagear o Natal.

Trata-se de um verdadeiro equívoco, cometido por quem, em tese, teria a obrigação de saber que o Natal tem seu sentido e seus símbolos próprios, cada um representando algo desse extraordinário acontecimento para toda a humanidade, segundo a nossa fé e a nossa tradição ocidental cristã. Por isso, nada justifica a decoração ali montada sob o título de “A FLORESTA ENCANTADA DE PAPAI NOEL”.

Quanta alienação!. Quanto dinheiro público gasto levianamente, em parceria com uma empresa privada!

Diante das tantas figuras alienígenas e grotescas, componentes da “Floresta Encantada”, é de se perguntar: Onde está o sentido do Natal?
O que foi feito de nossas tradições natalinas? Afinal, sem pretender adentrar no mérito religioso do Natal, nós ainda pertencemos à grande maioria de cristãos católicos existentes neste planeta e por menosformação religiosa que tenhamos, sabemos que o Natal é a grande festa cristã que comemora o nascimento de Jesus Cristo, vindo ao mundo sob a forma humana de uma frágil criança. Portanto, qualquer outra conotação que se dê ao Natal estará subvertendo o aspecto divino que transparece em todo o sentido da festa do Natal.

Assim, a tal “Floresta Encantada”, significa um total desvirtuamento do que há de mais original no imaginário popular sobre as figuras representativas do Natal. Ademais, não consta da historicidade do Natal que a figura folclórica do Papai Noel para os brasileiros, Santa Klaus para os nórdicos, Pai Natal para os portugueses, etc, tenha possuído ou mesmo vivido em qualquer floresta, muito menos encantada, com duendes, cavalos voadores, dragões e outras invencionices dissociadas das nossas tradições populares, ou ao que é mais grave, à uma ideologia importada e subreptícia que vai se infiltrando inconscientemente em nossas populações de modo geral e em nossas crianças de modo particular, ofuscando e eliminando as nossas belas e representativas figuras natalinas, como os pastores, os anjos, os reis magos, os animais, a estrela, o galo, José, Maria e o menino Jesus deitado na manjedoura, os cantos natalinos, os pastoris do cordão azul e do cordão encarnado, os reizados com a figura do mateus (personagem pintado de preto, irreverente e atrevido) que atemorizava as crianças pequenas pelo seu aspecto, entre outras figuras popularizadas e inculturadas nas tradições natalinas de nosso povo.

Há, também, na tal “Floresta Encantada”, um presépio estilizado que é simplesmente a negação de tudo o que se sabe sobre o nascimento de Jesus, pobre, humilde, numa noite fria, deitado numa manjedoura, porque não havia lugar para seus pais na estalagem de Belém. O presépio da “Floresta Encantada” retrata Maria embalando o Menino Jesus numa cadeira de balanço, em uma referência clara à uma típica Mãe burguesa, não condizente com a figura de Maria, pois é sabido que ela foi pobre e a simples esposa do carpinteiro José. No local onde Jesus nasceu, sequer havia cadeira ou outro objeto doméstico, razão porque Maria acomodou sobre palhas o seu filho Jesus na manjedoura onde os animais se alimentavam. Esse cenário é o que é tirado das leituras bíblicas e que é passado de geração em geração sobre o nascimento de Jesus.
Não existe a menor referência a essa ridícula cadeira de balanço para embalar o Menino Jesus.

Esse desvirtuamento em relação ao sentido do Natal, além de ser pernicioso sob o ponto de vista cultural é também anti-educativo e anti-cristão, pois em vez de transmitir às crianças e incutir em sua mente e em seus corações sentimentos de paz, de amor, de fraternidade, humildade, que constituem o verdadeiro espírito do Natal, ao contrário, enche-lhes a cabeça de fantasias inócuas e fora de sua realidade cultural, paganizando uma das mais lindas e significativas festas tanto para os cristãos, como para todos as pessoas que entendem o Natal como algo importante não só do ponto de vista religioso, mas, também, sob o aspecto de fraternidade entre os povos.

Por isso é inaceitável que se deixe de cultivar as tradições e os valores culturais e religiosos próprios de nosso povo para impingir-lhes invencionices e modismos importados e sem qualquer sentido, só porque a mídia ou a colonização globalizada nos impõe. Façamos valer nossa cultura. Ela é bonita, significativa, nos retrata como povo e afirma a nossa identidade.

Por outro lado, a praça não agüenta mais o descaso a que é submetida durante o ano inteiro. Antes, os recursos gastos em toda essa parafernália alienante fossem utilizados para a manutenção da própria praça, completamente degradada, pois durante todo o ano fica abandonada, à mercê de vendedores de comidas insalubres e de bebidas alcoólicas, os quais, pelo tempo de que se utilizam da praça para o seu inconveniente comércio, já estão prestes a adquirir o direito ao usucapião do espaço que ocupam no referido logradouro público, que se transformou num botequim a céu aberto, para o incômodo e o transtorno dos moradores do seu entorno.

Tanto barulho, tanto desconforto, tanta sujeira, tanta alienação para nada. Afinal o que fizeram do Natal?

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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