Arcebispo emérito de Maceió
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No dia 19 de novembro último, faleceu Mons. José Ayrton Guedes na bela idade de 102 anos (cento e dois!), certamente o pároco mais velho do mundo. Dom José Cardoso, num gesto de paternal bondade, conservou-lhe até essa idade a provisão de Pároco de Nossa Senhora da Piedade, na rua do Lima, no Recife.

Com apenas 18 anos de idade, foi enviado seminarista a Roma para o Colégio Pio Latino Americano (não existia ainda o Pio Brasileiro) e obteve o doutorado em Direito Canônico pela Universidade Gregoriana, ordenando-se sacerdote na Cidade Eterna em 1928, com apenas 22 anos de idade, nascido que fora a 2 de agosto de 1906.

Professor no Seminário de Olinda, começou aí sua imitação de Dom Bosco. Preocupando-se com os jovens pobres da velha capital, reunia-os nos pátios do Seminário (tal como começara Dom Bosco no Colégio Eclesiástico de Turim) para jogar bola e receber aulas de catecismo, que o jovem doutor de Direito lhes proporcionava. Em sua primeira missa nas catacumbas de S. Calixto, por sinal administradas pelos Salesianos, prometera ao Senhor dedicar as primícias de seu sacerdócio às crianças carentes da nossa Arquidiocese. Certa vez, um garoto lhe perguntou por que não ia também ao seu bairro, os Peixinhos, então pobre localidade situada a 6 quilômetros do Seminário, unindo as duas periferias do Recife e de Olinda, a que pertencia.. Sem estrada, sem escola, sem igreja, com casinhas de palha e uma única casa de tijolos e telhas. Foi assim que num belo dia, após as aulas do Seminário, os alunos viram seu professor, Padre Guedes, com uma bola nas mãos, cercado de muitos meninos, encaminhar-se apressado para os Peixinhos. Começava ali a fórmula clássica dos Oratórios de S. João Bosco: bola e catecismo. Como nascera em agosto, o mês de nascimento de Dom Bosco, foi também no dia 27 de agosto de 1934, ano da canonização de Dom Bosco, que à sombra de um cajueiro começou com dez crianças o catecismo da Escola Dom Bosco, que iniciou suas aulas no dia seguinte, já com 40 alunos e duas professoras. O colégio cresceu e se afirmou como centro de educação dos Peixinhos, também como Dom Bosco, às vezes perseguidos pelas autoridades de ensino do Estado de Pernambuco. Daí, foi que o Monsenhor Guedes recebeu o justo título de “o Dom Bosco dos Peixinhos”.

Desde 1947, com intensa atividade no Seminário e na Escola dos Peixinhos, Padre Guedes, começou também a desenvolver seu ministério sacerdotal na paróquia de N. Sra da Piedade, em Santo Amaro. Sucedeu ao Mons. João Olympio dos Santos, como pároco, de 1952 até à sua morte neste ano. Sempre preocupado com a educação, fundou a Escola Paroquial e a Escola Doméstica para as empregadas domésticas do bairro. Consta de suas atividades a construção da Casa Paróquia, da capela-escola de Santa Teresinha na ilha deste nome. Como amante da sagrada Liturgia, famoso em todo o Brasil, foi o Mestre de Cerimônias do Concílio Plenário Brasileiro em 1939, do III Congresso Eucarístico Nacional do Recife no mesmo ano e em 1955, do Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, em nossa Igreja do Sagrado Coração de Jesus no Recife foi o cerimoniário da sagração de Dom Ladislau Paz. Entre os cargos de relevância que o Mons. Guedes exerceu, convém assinalar o de Vigário Geral em 1952, presidente do Tribunal Eclesiástico, assistente do jornal católico “A Tribuna” e assessor dos bispos brasileiros como auditor dos párocos no Concílio Vaticano II de 1962 A 1965.

Também por essa atividade incansável em favor da Igreja, Mons. Guedes bem que merece o título de “O Dom Bosco dos Peixinhos”.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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