Marcelo Barros 2 de dezembro de 2008

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Nesta segunda-feira, 1º de dezembro, começa em Poznan, Polônia, uma conferência internacional da ONU sobre mudança climática, a última antes de Compenhague, onde, no próximo ano, a ONU deverá acertar o acordo internacional que sucederá ao Protocolo de Kyoto, a expirar em 2012. Todo mundo concorda que Kyoto fracassou, por culpa de muitos fatores, mas uma responsabilidade especial cabe ao presidente Bush que, embora governe o país que mais provoca gases tóxicos, nunca aceitou rever em nada o estilo de vida consumidor e poluidor do povo norte-americano.

Poucos acreditam que a ONU terá condições concretas para, em tão pouco tempo, formular um tratado à altura dos desafios atuais. Afinal, Kyoto precisou de cinco anos para ser concluído e mais onze para ser implementado. A mudança atual é que certas perguntas ou dúvidas que ainda existiam na época das discussões de Kyoto, hoje, não cabem mais. Evidentemente, há um agravamento do estado do planeta que todos, menos Bush e seus assessores, parecem reconhecer. Por isso, a mudança de governo nos Estados Unidos significa, em si mesmo, um claro sinal de esperança. Em recente discurso a governadores, Obama prometeu que, em seu governo, os Estados Unidos assumirão a liderança do cuidado ecológico com a terra.

A humanidade inteira tem consciência de que, sem um esforço conjunto e concreto de todos os países, não será mais possível conter o aquecimento global abaixo dos 2º C, taxa considerada de risco para o equilíbrio da vida no planeta. A Inglaterra acaba de aprovar sua Lei de Mudanças Climáticas e as novas constituições da Bolívia, do Equador e da Venezuela consagram este mesmo cuidado como prioridades a ser conquistadas.

No Brasil, o Plano Nacional de Mudanças do Clima (PNMC), elaborado por 15 ministérios, não parece responder como o país poderá contribuir de forma concreta para, até 2013, diminuir de forma significativa a emissão de gases do efeito estufa. Todo mundo sabe que, no Brasil, 70% das emissões de gases vêm das queimadas e dos desmatamentos. Ora, infelizmente, as estatísticas mostram que o desmatamento e as queimadas aumentaram em todo o país. As diversas organizações da sociedade civil, envolvidas com o problema, alertaram que o PNMC só terá resultado se conseguirmos chegar à meta do desmatamento zero, coisa impossível enquanto o governo federal continuar fascinado pelos índices de crescimento capitalista e pelo etanol para abastecer os carros norte-americanos.

Capitalistas, que conhecem o segredo de lucrar de qualquer modo e a todo preço, repetem que a atual crise econômica pode se transformar em oportunidade positiva. Isso significa concentração maior ainda de riquezas, com maiores sacrifícios a serem pagos pela população mais pobre. Entretanto, ao invés de pensar como solução garantir que se mantenha o nível de consumo, como o presidente Lula tem insistido, estamos no momento de conceber uma sociedade de maior sustentabilidade ecológica, baseada na sobriedade do consumo e no cuidado maior com os recursos naturais. O que adianta o presidente Obama prometer diminuir as taxas de emissão dos gases poluentes, se nesta crise econômica, ele investe em salvar a indústria automobilística norte-americana, sem exigir que se produza outro modelo de carro e de combustível? Como disse a ministra Marina Silva, o Brasil é referência mundial na área dos biocombustíveis, porque investe nisso há mais de 30 anos. Entretanto, ela concorda que “é preciso valorizar a discussão dos problemas e não ter medo das críticas” (Folha de S. Paulo, 24/ 11/ 2008).

Já na primeira parte do século XX, declarava o padre Theillard de Chardin, filósofo e cientista: “Para um observador perfeitamente clarividente e que olhasse por muito tempo e de muito alto,a Terra, nosso planeta, ela apareceria antes de tudo azul, por causa do oxigênio que a envolve. Depois, ela se tornaria verde, por causa da vegetação que a recobre. Finalmente, ela apareceria luminosa – sempre mais luminosa – pelo pensamento que se intensifica em sua superfície. Entretanto, ao mesmo tempo, o planeta aparece sombrio – sempre mais coberto de sombras, sombras de um sofrimento que cresce em quantidade e em densidade no mesmo ritmo que se eleva a Consciência humana no decorrer dos
tempos” ¹

*Monge beneditino, teólogo e escritor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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