Para Dorin Gray Caldas
Era uma vaca azul e muito esguia
Ruminando tristemente o seu pensar
Num pastar preguiçoso e comovente
A transmitir indolências pelo campo
Os olhos eram serenos e muito tristes
No seu lento cismar pela campina
De perdidas quimeras seculares
E profunda melancolia no existir
Chorava taciturna algumas mortes
No vagar de uma tarde quase escura
Em caminhos de tristes pensamentos
De crestadas e longínquas fantasias
A cauda mitigava alguns afetos
Que ficaram algum dia para trás
Quando a beber no leito de algum rio
O amor que nunca soube onde encontrar
Mas no sonho colorido e sem palavras
Havia um reclamar de muitas dores
Como em um quadro muito cru de algum pintor
Que encharcara o pincel nas suas lágrimas
E rota a paisagem ambígua desse sonho
Sem árvores sem flores só de espinhos
A vaca encaminhou-se em seu destino
Como se fora ela mesma o seu poema.