Abril de 2007
1. Vencer o medo, revoltar-se diante do mundo atual
A maioria do povo está conformada e vive humilhada diante da situação atual da humanidade. Uma pessoa militante não poderia aceitar a exclusão social, não pode ficar conformada. Muitos escravos se revoltavam com a situação de escravidão, mas a grande maioria se conformava.
A força da classe dominante está na conformação das grandes massas, na resignação das grandes massas. É da não aceitação da opressão e dominação que nasce a consciência moral, que nasce o ser humano responsável, que nasce o grito da dignidade humana.
O medo é grande no meio do povo: medo de levantar a voz, medo das autoridades, medo dentro de cada pessoa. Medo que está na grande massa de 60 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de miséria – 60 milhões de pessoas que têm medo. Vencer o medo é o começo da vida moral. Nossa tarefa é levar a grande massa a vencer o medo.
2. Vencer a mentira
Existem muitas formas de democracia e quanto às Leis só se respeitam as que favorecem a classe dominante. A democracia é a fachada da mentira dos dominadores e governantes. A democracia que se divulga só existe para servir aos interesses dos dominadores. Esse sistema foi criado para não haver mudanças, para evitar, impedir e desestimular qualquer tentativa de mudança. Denunciar essa mentira é ajudar a construir o valor ético e moral.
3. Sentir-se responsável pela sociedade
Ser militante é sentir-se responsável por toda a comunidade humana: “posso fazer alguma coisa”, “sou capaz de agir” “sou capaz de julgar” “tenho capacidade”. Sentir-se capaz e assumir responsabilidade. Nossa população foi ensinada a repetir que “as coisas sempre foram assim e sempre vão ser assim”. A tarefa da militância é despertar o sentimento de responsabilidade que está adormecido na grande maioria das massas dominadas.
4. A força do povo está no próprio povo
Militante que não respeita a força do povo, não tem o povo. É dever da militância meter-se no meio do povo e participar, sentir, ter paciência, respeitar a consciência das grandes massas. Ter paciência é sempre ter muito amor ao povo para poder despertar a consciência do povo.
A militância tem que contar com uma paciência infinita e transmitir a mensagem a partir da resistência e da paciência, insistindo que é do povo a força. É do povo o poder da mudança. È preciso de um trabalho imenso, de uma paciência imensa, de uma persistência infinita. Amar o povo é despertar a vida, é despertar a vontade de viver, é a vontade de servir para despertar as massas deste sentimento de impotência que está no meio do povo.
Um grupo voluntarista não consegue mudança se não estiver com a maioria. É preciso despertar a consciência adormecida das grandes maiorias e… cuidado, para não chegar a conclusão que o povo não quer a mudança! É preciso despertar no povo sua auto-estima, a confiança em si mesmo.
5. Uma pessoa sozinha não pode nada
A força dos pobres está no número, na ação comunitária, na ação de conjunto. A militância precisa saber juntar as forças, sem procurar a própria glória, sem supervalorizar sua importância e sem procurar seu prestígio, em detrimento da ação coletiva, comunitária. A consciência ética nos orienta a construir junto, libertando junto.
A mensagem da cultura dominante é de que cada pessoa defende a si mesma, cada pessoa se salva como pode, “salve-se quem puder”, “cada qual cuide-se de si”. Esta mensagem se escuta inúmeras vezes, inclusive, no meio da militância mais antiga que diz: “tanto que me sacrifiquei, pensei nos outros, agora quero viver a minha vida”; “quando era jovem, era muito ingênuo, por isso, me sacrifiquei tanto” ou “quem não é socialista aos 20 anos não tem coração, quem continua socialista aos 60 anos não tem cabeça”.
Obs:
– Notas a partir de palestra de Pe. Comblin.
O Teólogo e padre José Comblin tem uma vida dedicada à Teologia da Libertação e é militante da igreja, na Paraíba e no nordeste.
A Parte II será postada no dia 14.10.2008