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− …O homem utilizando-se da liderança, como primeira alternativa, conseguiu obter satisfação pessoal. Por determinados momentos sentiu-se em paz consigo mesmo e respeitado pelos demais. Com o passar do tempo alguns descobriram que não era o domínio de seus semelhantes que lhe dava satisfação. E partiram para uma nova busca. Observou que os afortunados, os que detinham bens materiais, viviam alegres, devido ao poder financeiro que lhes assegurava melhores condições de vida até que começaram as brigas, as batalhas para tomar as terras do outro e ampliar o seu reino.
Passado uns tempos perceberam que a tentativa em busca da felicidade estava frustrada. Não era o domínio dos seus semelhantes nem de suas terras que alimentaria o ego. A satisfação pessoal não dependia dessas ações. Pensaram, então: será que depende do conhecimento e domínio dos valores que cada um possui? Aí então, viram-se impulsionados a saber o que motivava a alegria e a tristeza. Será que existe alguém totalmente feliz? E alguém totalmente triste? E se voltaram para dentro de si na intenção de descobrir quais os valores que trariam a felicidade ou a tristeza. Como conhecê-los se divergem em cada ser humano? Será que no mundo existem duas pessoas que pensam igual? E de novo tiveram a idéia de procurar entender o seu interior, e a formação de sua personalidade.
Com o conhecimento de si mesmos, eles continuaram a ter momentos de alegria e de tristeza. Desesperados notaram que havia algo mais que um simples conhecimento de si mesmo. Daí em diante, se aprofundaram nos livros os mais diversos tentando descobrir a verdadeira razão da existência…
– Eu não acredito que ainda estou aqui.
– Cala a boca, Esaú. Vamos esperar e ver aonde ele quer chegar.
– É muita besteira numa só aula.
– Ele está olhando pra gente.
– Esaú, você, por exemplo, tem mais momentos de alegria ou tristeza?
– Professor, eu nunca me preocupei com isso. Há dias que não estou tão satisfeito, mas logo passa.
– Este é um dos males dos jovens. Não se preocupam em conhecer-se enquanto é tempo. Mas, continuando, eles encontraram nas leituras um denominador comum. Profetas, escritores, filósofos escreveram sobre o amor. Esse sentimento está registrado nas mais primitivas formas de expressão. Entretanto não foi suficiente para explicar a inquietação humana. E tentaram entender quais as conseqüências advindas do amor e como proceder para adotá-lo como princípio único e fundamental da vida.
Diante deste desafio, recorrendo mais uma vez ao estudo, concluíram que o melhor caminho para o amor estava contido na frase: “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Com essa premissa mergulharam em cada palavra para admitir as mais variadas formas de concepção de Deus. Ora admitiam uma entidade extrínseca, ora intrínseca, ao ser humano. Os desentendimentos se agravaram. Os caminhos escolhidos foram distintos. Cada um defendia um caminho. Pensavam que existia uma única verdade. E a verdade do outro não era válida. Sem cederem cada um procurou divulgar a sua. Surgiram os Iluminados, aqueles de grande sabedoria, fé e domínio dos ditos poderes espirituais e paranormais, que os destacavam, os tornavam líderes. Não demorou muito para centenas, milhares, milhões de seguidores defenderem as verdades apresentadas como únicas. Estava criada a diversificação da verdade, estava criada a religião. E em nome de Deus os homens começaram a se desentender…
– Mas que aula! Adauto, acho que ao sair daqui vou trancar meu curso.
– Cale esta boca, você está chamando a atenção dele, prepare-se para receber perguntas.
− …cada facção defendia a sua história, os seus dogmas, sem admitir, por hipótese alguma, argumentos contrários por mais lógicos que fossem. Desencadearam-se em nome de Deus, verdadeiras batalhas e perseguições àqueles que desobedeciam às crenças e dogmas adotados em aldeias, tribos. Até mesmo em países ditos, na época, como os mais adiantados. Com grande temor do que poderia acontecer sobre as discórdias pensaram: “O que preciso para falar com Deus?” Lembraram-se, então, que a concepção do seu Deus é influenciada pela cultura e os valores pessoais da formação do seu caráter. E vieram novos questionamentos. “Meu Deus é algo distante de mim ou está dentro de mim porque faço parte do Universo como uma partícula do todo?” De uma ou outra forma, acreditaram na existência de um Criador onde a principal meta era amar a Deus acima de qualquer coisa. Para isto seria preciso conhecer outras diretrizes para alcançar o que pensavam. “Poderei amar a Deus se não consigo amar a mim mesmo?” Dominados por esta dúvida tentaram visualizar que motivos o levavam a esta atitude. Analisaram os fatos marcantes de suas vidas. Anotaram as datas prováveis das ocorrências, ponderaram as mais significativas e, ficaram surpresos; tinham muito a fazer para modificar o modo de pensar e agir consigo mesmo. Só assim melhor se conheceriam e quem sabe talvez pudessem fazer parte do Criador. Desta forma, jamais poderiam deixar de amar a si mesmos. Novo questionamento surgiu: “Como posso amar ao próximo como a mim mesmo se não o conheço?” Diante desta pergunta tão complexa para um mundo que gira em função de conceitos e normas variáveis para cada país, se viram numa encruzilhada. “Ou me aproximo do meu semelhante, para melhor compreendê-lo ou não farei parte do Criador.” Diversas foram as tentativas. Alguns conseguiram. Mas a maioria foi movida pela inveja. Inveja que gerou rivalidades. Cada um agia individualmente, embora estivesse numa sociedade com regras e normas iguais para todos. A concordância tomou outro rumo, virou mercado. Concordavam para adquirir algo em troca. E o amor ao próximo se distanciou ainda mais. Meus alunos, por hoje é só. Na próxima quinta feira, neste mesmo horário, quero um trabalho de vocês. Que chances vocês vêem para o homem conseguir uma união justa, honesta e com melhor distribuição de renda? Entrem no espírito do que lhes falei. Espero que formem grupos de cinco. O trabalho deve ter cinco folhas, tamanho “A4”, não menos.

Esaú e Adauto saíram pelo corredor sem dizerem uma só palavra quando avistaram uns conhecidos. E entre uma e outra conversa, surgiu o assunto:
– Esaú, você gostou da primeira aula?
– Pra dizer a verdade, não.
– Então já sei que foi a do professor Elias.
– Como sabe?
– Amigos, vocês caíram num trote.
– Trote? Ele não é professor?
– Que nada, ele é estudante. Há cinco anos vem tentando passar, coitado, mas não consegue. Aposto que falou sobre a verdade, sobre o homem, Deus, Universo, não foi isso?
– Foi.
– Todos os anos ele pega os novatos com esta historia que chamamos “Sermão da Verdade”
– Por que a Universidade permite uma coisa destas?
– Na próxima aula vocês irão receber as orientações do coordenador do curso e um dos assuntos é sobre “aceitar sem questionar”. Algum de vocês questionou os argumentos dele?
– Claro que não.
– Neste curso são mais do que necessários os questionamentos.
– Não sei porque me meti nisso!
– Tem calma, Esaú. Você vai ser um iluminado quando terminar o curso.
– Ah!

* * *

Obs: A Parte I foi postada no dia 11.10.2008

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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