Uma garça esvoaçante, tomando o rumo do horizonte, no sertão do Pajeú, segue feliz e altaneira, procurando água para beber. Nuvens escassas em todo o céu. Não há prenúncio de chuvas.
O sol já fez seu profundo aquecimento nas fendas abertas do solo para que pudesse entrar e queimar suas entranhas, torrando sementes e raízes.
O olhar não consegue acompanhar tanto cinza escuro e os esqueletos das árvores, destacando-se a jurema preta. Esta insiste em continuar firme, mesmo seca, correndo o risco de ser queimada por uma faísca qualquer. Espera, confiante, por uma gota d’água para renascer e se vestir toda de verde. A expectativa é da festa da natividade do Senhor de todo o Universo, quando a Terra dobra seus joelhos e reza pelo Deus Menino que nasceu.
Descrever esta paisagem desolada e árida é compreender esta terra, que traz em si a resistência do sertanejo em lutar nela contra o sol inclemente. É entender que este sol, caprichoso em suas vontades, aponta para que o homem capcioso compreenda essa evolução climática que executa a sua própria vocação natural. O homem não ganha do sol, precisa entendê-lo ou mudar a sua forma de vida.
O que fica é somente a jurema preta que olha para os céus e, em súplica ardente, clama por uma gota d’água para si e para a terra esturricada, aproveitando que o sol se escondeu, entre nuvens, e não está vendo o que ela, jurema preta, está a pedir aos céus.
O homem preso a esta terra, onde o tempo parece que parou, não se ilude com choro. Só vê frustrações a sua volta. Pára e olha desolado ao derredor, tentando entender tanta adversidade e o porquê das intempéries do tempo e conclui tristonho que ele, sertanejo, é antes de tudo, um bloco de fortaleza interior, difícil de ser rompido por problemas como as secas que o consomem desde antes de nascer.