Marcelo Barros 21 de outubro de 2008

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Nesta semana, a ONU completa seu 63º aniversário e consagra esta semana ao tema do desarmamento. Infelizmente, esta organização internacional anda desmoralizada e sem forças. O próprio secretário geral Ban-Ki-Mon é visto por muitos como alguém sem carisma e sem prestígio (Cf. Internazionale, 17/09/2008. A sociedade internacional precisa de um organismo como a ONU e que tenham mais força política.

Embora oficialmente esta discussão ainda não tenha entrado na discussão da assembléia da ONU, grande parte da humanidade sonha com um organismo internacional que abranja não somente governos, mas também uma representação legítima da sociedade civil internacional. Só uma ONU que reúna Estados e também representantes das organizações civis terá força para exigir do governo dos Estados Unidos respeito pelas leis e decisões internacionais. Poderá intervir para que o governo de Israel pare de massacrar o povo palestino. E proíba os países ricos de estabelecer leis agrícolas protecionistas que destroem a economia dos países africanos. A ONU não deve se omitir diante do crime internacional cometido contra o povo do Haiti, assim como precisa colocar-se a favor dos governos e dos povos da Bolívia, Venezuela e Equador que enfrentam o imperialismo e tomam nas mãos o destino dos seus países.

A missão da ONU, como fórum privilegiado de cidadania, é a de zelar para que a sociedade internacional seja impregnada de valores fundamentais como o respeito à dignidade de todos os seres humanos, a supremacia da justiça, a consciência ecológica e a abertura à transcendência.

Neste seu 61º aniversário, a ONU deve fazer com que a sociedade internacional intervenha na economia mundial. O Banco Mundial afirma que 20% da população mundial, pouco menos de um bilhão de pessoas, consomem sozinhos 83% dos recursos disponíveis na terra. Metade da humanidade, três bilhões de pessoas, deve viver com dois dólares por dia. A UNICEF adverte que mais de um bilhão de crianças vive abaixo da pobreza. Por causa disso, a cada ano morrem de fome de 40 a 60 milhões de pessoas. Conforme cálculos do Banco Mundial, com 40 bilhões de dólares, se poderia resolver todo o problema da fome e da saúde dos pobres do mundo. Ora somente no ano passado, um país como os Estados Unidos gastaram 700 bilhões de dólares em armas para as guerras que mantêm no mundo. E, agora, para salvar empresas privadas fraudulentas, o governo dos Estados Unidos investiu mais de um trilhão de dólares, a fundo perdido. Ao mesmo tempo, a FAO, organismo ligado à ONU, declara que a parcela da humanidade que passa fome passou neste ano de 850 milhões para 925 milhões de pessoas. E a sociedade internacional salva os bancos, mas não as crianças e adultos pobres que, a cada dia, morrem de fome.

A crise atual aponta para a necessidade de uma nova política econômica e social que se coloque a serviço da construção pública, ou seja, coletiva da sociedade internacional e dos Estados. Muitos ainda não entendem que empresas, mesmo privadas, têm uma função pública.

Conforme Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales, SP, “no processo das Semanas Sociais Brasileiras, promovidas pela CNBB e por diversas organizações da sociedade civil, uma das mais preciosas aquisições foi a crescente afirmação do Público como valor que precede e paira acima do Estatal. O conceito de coisa pública é um critério que direciona e relativiza as instâncias organizativas tanto da sociedade como do Estado. O caráter público deve presidir a compreensão de tudo o que se refere à cidadania. É recuperando com vigor o caráter público que podemos equacionar de maneira adequada muitos problemas que hoje se colocam na pauta política de quase todos os países, como é o caso típico das privatizações. O grande critério é ver como as diferentes realidades em questão cumprem melhor o seu caráter público. Seja o petróleo, seja o gás, o transporte, a energia, como também os meios de comunicação, e sobretudo a escola, Fazer a distinção entre o Público e o Estatal é hoje uma urgência e uma estratégia que precisa ser levada com tenacidade, para que produza transformações políticas com reais incidências sobre a vida dos cidadãos” (Agenda Latino-americana 2008).

Este aniversário da ONU nos anima porque, em todo o mundo, a sociedade civil está manifestando que não aceita mais esta organização iníqua da sociedade. Uma opção pela paz e pela justiça faz com que a humanidade não aceite mais a fome e a miséria como condições normais no mundo. Não basta garantir o cumprimento das leis. É preciso e urgente estimular uma nova cultura que não permita mais a insensibilidade ainda vigente com o que se passa com milhões de seres humanos. É preciso que a ONU, as organizações internacionais e cada grupo humano tenham um coração que opte pela vida e nos faça amar. A humanidade está descobrindo a espiritualidade social e política da paz e da justiça.

* Monge beneditino, teólogo e escritor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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