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Moças saem do trabalho – das lojas – no fim do dia;
chove muito, não há ônibus, as ruas estão cheias
de água, de lixo, de carros (com seu conhecido
desprezo por todo pedestre).

Devem ter ficado quase o dia todo
de pé: venderam, mostraram estoques,
disseram preços, limparam produtos;
quem sabe o que precisaram ouvir
de um gerente abusado, de algum cliente grosseiro?

O mundo lhes dá muito pouco:
um pequeno salário, um namorado talvez,
o sonho de um bom marido,
filhos que adoecem, sexo meio apressado,
bailar no sábado à noite, folgar no domingo à tarde
e um jogo de ilusões.

Não obstante, sorriem; são simpáticas,
quase bonitas em seus uniformes deselegantes.

De onde lhes vem a força que as faz se manterem tranqüilas?
de onde lhes vem não gritar, não praguejar, não jogar pedras?
de onde lhes vem o instinto de se manterem
sensatas, insensatamente?

Talvez sorriam apenas porque agora vejam-se livres,
apesar da chuva, dos carros, da falta de ônibus.

Merecem aplausos, essas moças.
Merecem mais: monumento na praça –
o povo agradecido, às heróicas moças trabalhadoras
que por tão pouco fazem tanto, até sorrir
sob a chuva e à margem dos carros.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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