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Antes mesmo da publicação da encíclica Rerum Novarum, economistas que se tornaram conhecidos no mundo inteiro, com suas propostas econômicas, introduziram no interior de seus escritos, também uma proposta pedagógica.
Robert Owen, por exemplo, assim se expressava:

“Eu sei que a sociedade pode ser organizada de modo que possa existir sem crimes, sem pobreza, com condições de saúde grandemente melhoradas… e para que tal estado de coisa seja conseguido… não há no momento qualquer obstáculo senão a ignorância”.

Em 1864, funda-se na Europa, a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) em cujo interior evoluem debates pedagógicos e educacionais.
Mar, em sua obra “O Capital”, formula igualmente sua proposta educacional para a classe trabalhadora, conjugando “trabalho produtivo com ensino”. Sua proposta visava formar o ser humano unilateral, desenvolvido por inteiro, em todas as direções e potencialidades.

A Rerum Novarum, tida na época como revolucionária, não apresenta, em seu bojo, nenhuma proposta educacional para a classe trabalhadora, como fizeram os pensadores que lhe antecederam. Entretanto não podemos com isto dizer que a carta papal não desempenha uma função pedagógica.
A Igreja é “mãe e Mestra” e “dedica-se toda a instruir e a educar os homens segundo os seus princípios” (RN 17).
Longe da Igreja pensar somente no cuidado das “almas”; “ela faz todos os esforços para os (trabalhadores) arrancar à miséria e procurar-lhes uma sorte melhor” (RN 17).

Este papel é eminentemente pedagógico. A Igreja, pedagoga universal (católica), dirige sua ação à humanidade inteira, para “chamá-la da morte à vida, e guindá-la a um alto grau de perfeição como se não viu semelhante nem antes nem depois e nem se verá jamais em todo o decurso dos séculos” (RN 17), por isso é que a “Igreja instruída e dirigida por Jesus Cristo, eleva as suas vistas ainda mais alto; propõe um corpo de preceitos mais completos, porque ambiciona estreitar a união das duas classes até as unir uma à outra por laços de verdadeira amizade” (RN 13).

Modernamente, em educação, costuma-se perguntar muito, qual a linha ou a tendência pedagógica do discurso ou da práxis educativa: da classe dominante ou da classe não dominante? Ou que ideologia está presente na orientação pedagógica? A favor de quem? contra quem?

Na época da carta de Leão XIII, os católicos já se dividiam entre liberais (direita) e sociais (esquerda). O papa procurou definir um caminho próprio, eclético, eqüidistante dos extremos que se afrontavam.
A Rerum Novarum nunca fala de “marxismo” nem utiliza a expressão “sistema capitalista”, mas condena o socialismo que instiga nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem… (RN 3). Reconhece o peso do trabalho muito prolongado e a retribuição salarial mesquinha mas condena “as greves que causam dano não só aos patrões e aos mesmos operários, mas também ao comércio e aos interesses comuns” (RN 24)
Incentiva os operários a participar de associações (sindicatos?) mas entende que sua função é apenas assistencialista.
Por fim o papa defende a propriedade “particular e pessoal porque é para o homem de direito natural” (RN 5).
Voltamos novamente à questão anterior: Que ideologia está presente neste ensinamento?
A favor de quem? Ou contra quem?

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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