Uma homenagem a D. Canô e D. Stela Vasconcelos

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Chama a atenção dos visitantes e dos que são de fora da Bahia, a longevidade, com energia, dos baianos, sobretudo, daqueles que estão nessa região privilegiada do Recôncavo. Encontram-se com facilidade senhoras que atuam na Paróquia da Vitória, que estão entre os 80 e 90 anos, que assumem funções, como Dona Genoveva, que do alto dos seus 93 anos é uma atuante ministra da Eucaristia, levando a comunhão, diariamente , para quatro ou cinco doentes, e os anima com sua palavra amiga.

Nesses dias, na próxima 3ª feira, a matriarca Dona Canô Veloso estará completando seus 101 anos, bem vividos, bem cantados e decantados. Ela se tornou um símbolo da cidade e do Recôncavo, com sua simplicidade forte, sua devoção à Mãe da Purificação, com seu espírito agregador. Ela congrega a família, filhos, netos e bisnetos, mas reúne a todos em torno de Santo Amaro. Aquela cidade de antigamente, que já não mais existe, continua a existir nela e através dela que revive e reatualiza a velha Santo Amaro. Recentemente, a imprensa consagrou-lhe mais um artigo-documentário onde a descreve como dona-de-casa, especialista nos bons pratos e detentora de segredos culinários que só ela sabe, apesar de ter as mesmas secretárias na cozinha há quase 50 anos. É ela quem continua dando o cardápio diário, quem escolhe o peixe e o camarão oferecido à porta de sua casa. Tudo isso está condensado num livro intitulado “O sal é um dom”, escrito por sua filha poetisa Mabel Veloso. E o título veio de uma resposta despretensiosa que ela dá ao ser consultada sobre a quantidade de sal na comida :”Meu filho, o sal é um dom”.

Naturalmente, que ela é muito bem cuidada por todos que a cercam, e bem merecido. Ela vive plenamente a vida, conectada com tudo que se passa ao seu redor. Ela administra a sua casa, acompanha a vida dos filhos e netos, sabe do percurso de cada um, tem seus programas de televisão favoritos, e, sobretudo, não abre mão de suas devoções religiosas. A Igreja da Purificação é um ponto de referência na sua vida – nada ela faz sem consultar a grande Mãe Maria. Que seu jeito de viver seja uma lição a todos que a cercam e admiram. Que seja sempre feliz e parabéns.

Outra figura de relevo, integrante da Paróquia da Vitória, foi Dona Stela Ataíde Vasconcelos. No dia 03/09 houve uma Missa de Ação de Graças na Vitória, organizada por sua filha mais velha, Professora Mazinete Lemos, celebrada pelo Pe. Sadoc, do qual era muito amiga, pois, se estivesse viva, faria 100 anos. Morreu aos 96 anos, mas em plena atividade. Ela era, e sua memória continua sendo, o centro da família – foi a grande conselheira dos filhos e amigos. Na homilia da Missa, Pe. Sadoc comparou-a a uma estrela e fez um trocadilho com seu nome latino :Stela e Estrela – “Ela continua a brilhar nos corações dos filhos e amigos”. Até poucos dias antes do falecimento, colaborava na Missa indo recolher as ofertas, passando de banco em banco para fazer a coleta.

No final da Missa, sua filha Marigny Vasconcelos Barros, leu uma mensagem que reflete a saudade da família mas, sobretudo a fé que preside a momentos como esse, pois a vida dela foi um irradiação da fé que ela sempre teve.
Diz a oração:
“Senhor Jesus Cristo, Tu és nossa esperança agora e na hora de nossa morte. Contagiados pelas Tuas promessas , aguardamos a Vida Nova que vai brotar de nossas cinzas. Pois, firmemente acreditamos que a morte é “passagem” de nosso ser, de um corpo perecível para um corpo marcado com o selo da imortalidade. Bem sabemos que nosso corpo não pode ir muito longe, já que é produto daqui da terra. Aguardamos outro que jamais perecerá, uma vez que é produto do céu, à semelhança do corpo que Tu mesmo recebestes ao ressuscitar, primícia de uma nova humanidade, que por Ti vive e em Ti espera.

Essa passagem pode ser mistério incompreensível para nós. Mas é mistério de esperança, não de tristeza. Mistério de vida, não de morte. Mistério que dá sentido à nossa existência humana e ao nosso peregrinar por este mundo. É como Tu mesmo disseste Senhor:”Toda semente jogada no chão acaba por apodrecer”. Depois ela volta á luz do sol de roupagem nova e esplendorosa.
Mas se a erva do campo e as flores do jardim morrem e depois renascem, por que o ser humano, uma vez golpeado pela morte, não poderia se levantar de novo?
Obrigado Senhor, por essa esperança, primeira flor de Tua Ressurreição. Pois se, com efeito, sem ela seria terrível enfrentar a vida, mais terrível seria enfrentar a morte”.

*Professor Adjunto de Antropologia da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, da Academia Mater Salvatoris, Sócio da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio, Sócio Efetivo do Instituto Genealógico.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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