Arcebispo emérito de Maceió.es
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Pela janela do avião da FAB, modelo C-99, só se via verde, muito verde, floresta e água, muita água. E eu pensei: estamos na Amazônia! Meio-dia da 3ª feira, 26 de agosto, e uma turma de 20 bispos de todas as regiões do Brasil, liderados pelo Arcebispo Militar Dom Osvino Both e acompanhados pelos sacerdotes capelães-chefes das três Armas, começávamos interessante périplo de 15 mil quilômetros, com mais de 20 horas de vôo, sobre a selva amazônica, através das dioceses dos três estados do Extremo Norte de nossa pátria. Estivemos em Manaus; daí, Boa Vista e Surucucu (RR). Depois, Maturacá, S. Gabriel da Cachoeira e Tefé (Am). Em seguida, Guajará-Mirim (fronteira com a Bolívia) e Porto Velho, em Rondônia. Voltamos a Manaus, onde na 2ª feira, 1º de setembro, encerramos a Visita, com um balanço das atividades realizadas e avaliação. A finalidade era conhecer um pouco da realidade humana e pastoral da Amazônia.

Quando estávamos em Roraima, realizava-se o primeiro julgamento no Supremo da demarcação da Terra Indígena da Raposa Serra do Sol. Em Surucucu, no chamado “nariz do cachorro”, nas fronteiras com a Venezuela, devíamos visitar os yanomâmi, mas, para grande frustração nossa, apesar de dois pedidos gentis, feitos pelo Comando, a Sra. FUNAI, por razões insondáveis, não permitiu a visita dos bispos à aldeia dos índios. As crianças vieram ver-nos, receberam algum presentinho, terços e canetas, e após alguma relutância inicial, se deixaram fotografar. Fomos atenciosamente informados da situação daquela fronteira.

Em S. Gabriel da Cachoeira, recebeu-nos o simpático bispo Dom Song, chinês e salesiano. Aí, tomamos conhecimento do trabalho missionário das Irmãs Salesianas, com projetos de belíssimo artesanato, usando unicamente produtos da região. Em Tefé, às margens do Solimões, tivemos um almoço embarcado no lago de Tefé. Em Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia, fomos recebidos pela Infantaria da Selva e pelo bispo dom Geraldo Verdier, que nos deu informações sobre a realidade pastoral de sua diocese. Na capital de Rondônia, Porto Velho, encontramos o arcebispo Dom Moacir que nos fez uma palestra sobre o amazônida. Em Manaus, fomos acompanhados pelo bispo auxiliar, D. Sebastião Coelho, numa visita à cidade e num passeio pelos 2 pontos turísticos obrigatórios: o Teatro Amazonas e o encontro das águas do Rio Negro com o Solimões, formando o Amazonas.

O que dizer em poucas linhas da Amazônia, com sua grandeza e seus imensos problemas? Problemas conflitantes chocam-se naquela região: é o despovoamento e ao mesmo tempo, a necessidade da preservação da floresta, com toda a sua biodiversidade, única no planeta. É o direito do Ìndio à terra que é sua e a constante e crescente invasão do agro-negócio. É a exploração de suas riquezas naturais, sobretudo suas madeiras preciosas, o narco-tráfico com o perigo dos vizinhos demagogos não-confiáveis em nossas fronteiras…

O que se sente ali é a ausência do estado em quase tudo. Só a Igreja (há mais de um século) e a as forças armadas suprem as gritantes deficiências da região. Muita gente no Brasil – foi-nos dito – considera a Amazônia, não como parte integrante da unidade nacional, mas um “país amigo”…

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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