4 de setembro de 2008
Esqueço o meu corpo na cama, vagueio pela casa. A memória enxerga na parede o retrato que me prendeu criança. No sorriso a inocência esmagada.
Finjo-me de morta para não sofrer. Por algum tempo livro-me do equívoco de ser, dos enganos que me cercaram na passagem, quando aqui cheguei ameaçada de vida e de morte sob o peso de virtudes impostas, erros negados, confessados, perdoados.
Todas as vezes que obedeci, desisti de mim. Acreditei no pecado, fui privada de acertar errando e tive de aceitar as virtudes alheias. A defesa estava na falsidade. Criei a minha. Bastava-me fechar os olhos, prender as imagens e deixar fora os receios.
A bondade das pessoas boas encheu a minha infância de fantasmas
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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