Saulo Marden 27 de setembro de 2008


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” As interrogações vão continuar surgindo, sumindo e surgindo novamente. E eu irei desmanchá-las e fazê-las de novo, numa interrogação eterna sem fim e misteriosa.”
(Ana – Manual Nova Cultura pág.76)

-Você vai conseguir sair desta tempestade?
-Enquanto perdurar esta ganância, sei não, Carlos. Eles vão se rebentar mais adiante. Tenho pena dos milhares de trabalhadores espalhados por todo o país. Um dia irão perder a esperança.

O presidente da Cooperativa Terra e Mar lia o jornal enquanto um amigo, jornalista, o questionava:
-Preparam a armação para os covos, incentivam a pescaria, mas, na hora de colher o peixe dá tudo errado. A distribuição não é justa. Administrar uma cooperativa deste porte envolve um mundo de gente a querer concessão. Com isso gera-se a instabilidade e dificulta a implantação do projeto.
-E você, por quanto tempo suportará esta pressão? Ainda continua acreditando que conseguirá implantá-lo.
-Sou nordestino, nasci pobre, estudei em escolas públicas, mas tenho orgulho do que aprendi até hoje. Quando resolvi ser presidente desta cooperativa, sabia que teria dificuldades. Agradar a todos não é fácil. Preciso confiar nos meus assessores, até que me provem o contrário. Vou insistir.
-Mas, o que eles lhe deram em troca?
-Fora as tempestades, tivemos calmarias com avanços significativos. A cooperativa cresceu até mais do que eu esperava. Em alguns setores diria que foi até bom, melhor do que nas gestões anteriores. Mas a ganância de muitos vem estragando o que se construiu. Reconheço que uma boa limpeza será necessária para descobrir onde estão as ervas daninhas que apodrecem os produtos da cooperativa. Do contrário a produção será um fracasso total.
-Vai ser uma batalha difícil.
-Mas não impossível se conseguir pegar o fio da meada. Você é testemunha que fizemos algumas melhorias. As respostas vieram rápidas: a produção cresceu, a Cooperativa sobressaiu-se. Quem não a conhecia por dentro a imaginava sólida. As filiais por todo o Brasil davam sinais de prosperidade. O mercado com o exterior foi acelerado e podemos vender a preços competitivos. Firmas internacionais acreditaram nos resultados de curto prazo. Atribuíam o rápido crescimento aos planos da nova administração e o entusiasmo dos empregados. Com isto trouxemos o capital estrangeiro. A nova fase deu esperança a todos.
-Por que então não conseguiu manter o ritmo?
-Ah! Meu amigo. A ganância.
-Não acredita que a omissão de alguns foi um fator que mais pesou para esconder a flora de ervas daninhas?
-Não propriamente a omissão. Diria que faltou uma ação conjunta de todos. A cooperativa precisa ser administrada com um único objetivo; o crescimento de todos.
-Mas isto é impossível. Os interesses estão acima de tudo. Não vejo saída Você está numa enrascada. Todo dia surgem novidades. Lembre-se que a cooperativa tem muitos sócios. Administrar sozinho é impossível. Novos sócios irão surgir com soluções as mais miraculosas possíveis. Para os projetos saírem do papel você irá precisar da aprovação e consenso deles. Diga-me a verdade, você tem saída?
-Tenho. Vou investir com todas as forças. Se perder a esperança a administração será um fracasso.
-Não seria melhor entregar o cargo?
-De jeito nenhum. O compromisso assumido me impede. Tenho de renovar a crença. Eles precisam ver a cooperativa em pleno progresso.
-Carlos, está na hora de mudar. Seja contundente, mais ousado. Desagrade a alguns, mas cumpra o prometido. Arme-se de coerência. Um pulso forte nestas horas é preciso. Lembre-se que muitos estão esperançosos. Não os desiluda.
-Isto é tudo o que não desejo. Deus irá me ajudar na escolha dos novos sócios. Se errar desta vez, será o caos.
-Serei sincero com você. Se desta vez cometer qualquer falha pode abandonar a cooperativa ou eles lhe crucificarão vivo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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