Padre Beto 6 de setembro de 2008

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Certo dia, estava um pequeno sitiante pescando à beira de um lago, quando uma caravana foi se aproximando aos poucos. Enquanto os animais eram conduzidos para a beira do lago, o chefe da caravana, um mercador muito ambicioso, desceu de seu camelo e foi logo dizendo ao pescador: “Oh, rapaz, você não tem vergonha de ficar aí pescando em plena terça-feira?” “Eu não…, por que?”, respondeu o pescador admirado. O mercador, então, com uma certa irritação, continuou, “Você não tem um sítio?” “Eu tenho sim. É aquele ali” respondeu com simplicidade o pescador apontando para uma linda área verde com uma casinha e uma horta. “Pois é, você poderia estar agora trabalhando em seu sítio e ampliando sua produção”, disse o mercador com um olhar severo. “E daí?”, perguntou curioso o sitiante. “Ampliando sua produção”, explicou o chefe da caravana, “você poderia vender mais, com o dinheiro poderia comprar sementes de ótima qualidade e então duplicar a sua produção!” “É?”, continuou o pescador com um certo interesse, “e o que eu faria depois?” “Ora, produzindo mais, você poderia aumentar o seu sítio fazendo dele uma fazenda. Com uma fazenda você teria uma produção muito maior e poderia, então, exportá-la para outras regiões e ganharia muito mais dinheiro e, desta forma, você produziria mais e mais!”, explicou o mercador. “Ah é? E depois?”, perguntou com muito interesse o sitiante. “Depois?!”, continuou entusiasmado o chefe da caravana, “Você ficaria rico! E poderia fazer o que quisesse.” “Por exemplo?”, perguntou o pescador. “Por exemplo?!”, continuou o chefe da caravana convencido de que estava conversando mesmo com um ignorante, “Ah… você teria mais tempo para pescar.” O sitiante sorriu e voltando seu olhar para o lago disse tranqüilamente, “Bom,…mas isso eu já tenho!”

Todo ser humano é uma combinação única de características físicas, mentais e espirituais que vão se formando durante sua existência. Portanto, não existe nenhum ser humano que seja igual a outro e cada um contribui com seu modo diferente de ser. Apesar de todas as diferenças e particularidades encontramos uma base, uma essência em todo ser humano que nos leva à compreensão de que somos semelhantes: o ser humano constitui-se em um individuo que está em constante desenvolvimento e em busca de sua realização, de sua felicidade, ou seja, o ser humano é pessoa. Graças à essa essência podemos nos identificar com os outros e entender suas alegrias e também seus sofrimentos. O “ser pessoa” é a base universal que une todos os seres humanos, independentemente de sexo, raça ou religião. Ao tomarmos consciência de que todos somos pessoas construímos a plataforma necessária para o surgimento da unidade entre as diferenças, ou seja, para surgimento da solidariedade. Ser solidário significa ter a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Um exemplo clássico de solidariedade é a famosa parábola do “Bom Samaritano” narrada no Evangelho de Lucas. Nesta, dois inimigos ideológicos, um judeu e um samaritano, se encontram. O Judeu, depois de um assalto é deixado semimorto na estrada. Ao vê-lo, o samaritano compreende que, naquele momento, não é simplesmente seu inimigo que está precisando de ajuda, mas principalmente uma pessoa humana. Desta consciência surge o ato solidário do samaritano em relação ao judeu.

Porém, a solidariedade não é sinônimo de compaixão. Ela emerge da compreensão de sermos semelhantes e, portanto, a verdadeira solidariedade não se manifesta somente nos momentos dramáticos, mas também nos momentos alegres da vida. Ao me alegrar com o sucesso de alguém, estou me solidarizando com ele, estou me colocando em seu lugar e vivendo um pouco de sua alegria. Justamente neste tipo de solidariedade encontra-se um grande desafio para o ser humano. Com certeza, é muito mais fácil ser solidário no momento de sofrimento dos outros. Exteriorizar a nossa solidariedade quando o outro experimenta a tristeza não deixa de ser uma forma de evidenciar que somos mais fortes e nos encontramos em uma situação privilegiada. Mas, ao demonstrarmos nossa solidariedade com alguém que vive um sucesso ou uma vitória em sua vida, necessitamos de um desprendimento muito maior e uma libertação de nosso egocentrismo, o que significa possuir auto-estima, segurança diante da vida e amor próprio. “O homem que honra a si mesmo é capaz de ver as virtudes de outro homem” (José Martí). Justamente a solidariedade na alegria é a prova verdadeira de estima, afeição e amizade em relação a nossos semelhantes independentemente de seus sucessos ou fracassos. “A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é” (Victor Hugo).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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