D. Edvaldo G. Amaral 16 de agosto de 2008


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Em 27 de maio do ano passado, o Papa Bento XVI dirigiu uma Carta Apostólica aos Bispos, presbíteros, consagrados e leigos da Igreja Católica da República Popular da China. Junto com a Carta Apostólica dirigida à China, a Santa Sé Apostólica enviou ao episcopado mundial uma “Nota Explicativa” sobre este documento pontifício dirigido à Igreja da grande potência emergente, que nesses dias promove a mais grandiosa, mais bem preparada e mais competitiva Olimpíada de todos os tempos.

Neste artigo, quero me limitar a algumas referências e um breve condensado da Nota Explicativa. Duas idéias fundamentais perpassam todo o texto do Sucessor de Pedro e Pastor Universal da Igreja. De um lado, uma especial deferência pela comunidade católica chinesa, unida à fidelidade aos princípios que regem a eclesiologia católica. O texto pontifício é, portanto, iluminado pela caridade e pela verdade. Fidelidade às linhas eclesiológicas do Concílio Vaticano II e carinho pastoral pelo povo chinês.

A Igreja na China nos últimos cinqüenta anos passou por provações e martírios, próprios de sua caminhada na história. Nos anos ´50, ela viu a expulsão dos bispos e missionários estrangeiros, a prisão de quase todos os eclesiásticos e responsáveis dos movimentos leigos, o fechamento das igrejas e o isolamento dos fiéis. Depois, veio a criação do Departamento para assuntos religiosos e a chamada Associação Patriótica dos católicos chineses. Em 1958, houve as duas primeiras ordenações episcopais sem mandato apostólico, caracterizando o cisma da chamada “Igreja Patriótica” com a Igreja de Roma. E, durante a Revolução Cultural de 1966 a 1976, a violência caiu sobre todos os católicos, também sobre os membros da Associação Patriótica.

Foi com a abertura promovida nos anos ‘80 pelo governo de Deng Xiaoping, que se tornou possível certo diálogo e movimento eclesial, com a reabertura de algumas igrejas, seminários e casas religiosas. Mais uma vez o sangue dos mártires fôra semente de novos cristãos e a fé permanecera viva nas comunidades com o testemunho de fidelidade a Cristo e à Igreja.

O Papa lembra que alguns pastores, unidos ao sucessor de Pedro e fiéis à doutrina católica, não hesitaram em receber clandestinamente a consagração episcopal, com grave risco de vida. Outros, após receberem a ordenação episcopal sem mandato apostólico, pediram para serem recebidos na comunhão com o Papa e com seus irmãos no episcopado.

Durante os anos ´90, o Papa João Paulo II dirigiu várias mensagens e apelos à Igreja da China para a unidade e a reconciliação entre a chamada Igreja Patriótica e a verdadeira Igreja Católica, unida ao Papa. Mas, infelizmente, as tensões com as Autoridades civis e dentro da comunidade católica não diminuíram.

Em janeiro de 2007, realizou-se em Roma um encontro de uma Comissão especial, constituída de peritos sinólogos e membros da Cúria romana, que seguem de perto os problemas da Igreja na China. Bento XVI participou da última reunião e daí surgiu a decisão desta Carta Apostólica.

Nesta Carta Apostólica de maio de 2007, o Papa sem pretender resolver a complexa problemática da vida da Igreja na China, oferece algumas orientações e princípios fundamentais da eclesiologia católica, para ajudar na solução dos problemas mais concretos da vida da comunidade católica.

Demonstrando grande alegria pela fidelidade de tantos católicos na China durante os anos de perseguições, Bento XVI afirma o valor inestimável de seus sofrimentos e dirige a todos um veemente apelo à unidade e à reconciliação, que mais o preocupa. Oferece algumas indicações acerca do reconhecimento da comunidade clandestina, fiel a Roma, por parte das autoridades civis (n.7), sublinha o tema do episcopado chinês, referindo-se sobretudo à nomeação dos Bispos (n.9), insistindo sobre a missão do Bispo na comunidade católica, lembrando o velho preceito de S. Inácio nada sem o Bispo. Convida a criar os necessários organismos diocesanos, previstos no direito, e dá indicações sobre a formação de novos presbíteros e a vida da família. Quanto às relações com o Governo, o Papa exprime o sincero desejo de que possa prosseguir o diálogo para se chegar a um acordo sobre a nomeação dos Bispos, no pleno exercício da fé dos católicos, com o respeito a uma autêntica liberdade religiosa e a normalização das relações entre a Santa Sé e o Governo de Pequim.

Diz a Nota Explicativa: Bento XVI com linguagem pastoral dirige-se a toda a Igreja que está na China, sem querer criar situações de atrito com pessoas ou grupos particulares. Tem grande compreensão pelos aspectos da contingência histórica mesmo recordando com clareza os princípios teológicos. Convida todos os católicos chineses à missão de serem evangelizadores no atual contexto concreto de seu País. O Sumo Pontífice considera com respeito e profunda simpatia a história antiga e recente do grande povo chinês e renova sua disponibilidade para um diálogo franco, aberto e construtivo com as autoridades chinesas para a normalização da vida da Igreja Católica na China. Como o seu Predecessor, o servo de Deus João Paulo II, ele está convencido de que essa normalização oferecerá incomparável contribuição para a paz no mundo, criando um elemento insusbstituível no grande mosaico da convivência pacífica entre os povos.

Em resumo, penso que os dois grandes problemas tratados pelo Papa, com carinho pastoral e verdade apostólica, são: a união dos chamados católicos patriotas com os católicos fiéis ao Sucessor de Pedro e a normalização das nomeações episcopais a serem feitas canonicamente.

Por fim, Bento XVI estabeleceu o dia 24 de maio, dedicado a Maria Auxiliadora dos Cristãos – venerada, diz ele, com tanta devoção no santuário mariano de Sheshan em Shangai – como dia mundial de orações pela China.

Este ano, o Reitor Mor dos Salesianos, Pe.Pascual Chavez, convocou toda a Família Salesiana a rezar pela China na novena dedicada a Maria Auxiliadora, dando a cada dia da novena uma intenção particular pelas várias categorias de cristãos da Igreja da China.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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