Arcebispo emérito de Maceió
([email protected])
Em entrevista a uma revista de circulação nacional, declarou o psicanalista francês, Charles Melman, 76 a., em visita ao Brasil, que “a família está acabando”. Melman é considerado uma das maiores autoridades mundiais em psicanálise, tendo trabalhado (como informa a mesma revista) com Jacques Lacan, o herdeiro francês de Sigmund Freud. Afirmou ele que pela primeira vez na história, a instituição familiar está desaparecendo, suas conseqüências para a humanidade são imprevisíveis e ele estranha que antropólogos e sociólogos não se preocupem com esse fato. Declarou ainda que hoje os clientes mais interessados na psicanálise são os jovens de 18 a 25 anos, que buscam o divã do psicanalista, não mais por terem seus desejos reprimidos, mas sim por não terem desejo algum, não saberem o que querem da vida.
Quando eu vejo no Velho Mundo um homem manter a filha em cativeiro privado por 24 anos, tendo com ela relações incestuosas, gerando sete filhos; quando vejo um casal de alegres turistas que por causa de um jantar com amigos, deixam a linda filhinha de poucos anos num quarto de hotel e a menina desaparece… Quando vejo, em nosso país, que uma moça rica faz assassinar seus pais, uma pobre mulher joga seu filho recém-nascido numa lagoa e, agora, neste caso que abalou o país, um casal é acusado pela polícia de ter maltratado e assassinado sua filha e enteada de cinco anos… eu concluo que a família acabou!… Para mim, para além das investigações policiais, eu sinto o grito lancinante de uma criança que, conforme uma testemunha, gritava na hora do crime: Pára, pai, pára, pára!…
Para essas pessoas, envolvidas nessas tragédias, acabou a santa instituição do matrimônio. Casa com uma Ana (de 1 n só), depois separa, casa com outra Anna (de 2 ns ) e depois talvez vá procurar outra Ana, não sei com quantas ns.
O matrimônio é santo, é sagrado, é divino. É o sacramento do amor. Diz Jesus no santo evangelho: “Deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher e serão os dois uma só carne. Já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Marcos, 10, 7s). O Ministro pergunta aos nubentes no rito sagrado: “Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo e da Igreja?” O filho é a encarnação do amor do pai e da mãe. No filho, o amor se faz pessoa. É o fruto mais rico e precioso do amor humano. Nada, nenhum valor desta terra, pode comparar-se a um filho.
A família nasce do amor, constitui-se no amor e só se mantém no amor. No sacrário da família, desabrocham as quatro facetas do amor familiar: o amor conjugal, origem de tudo; o amor paterno-materno, dos pais para com seus filhos; o amor filial, que é a retribuição (a única!) que os filhos dão em resposta ao amor dos pais; e o amor fraterno que une os irmãos entre isso.
Sempre e acima de tudo, o mesmo amor no coração da família. Família assim constituída, como o quis o Cristo e o quer a Igreja, pode ter muitos sofrimentos por privações e doenças, mas nunca terá essas tragédias, que hoje estamos vendo cada dia na mídia.