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Em um país muito distante havia um rei que possuía um filho totalmente infeliz. O príncipe não achava a menor graça em nada e sua vida parecia não ter sentido. Seu rosto era sempre sério e o príncipe se irritava com os menores fatos que aconteciam. Com grande preocupação, o rei resolveu consultar os sábios da corte. Estes, então, tentaram de tudo, mas não havia a menor mudança visível no príncipe. Não sabendo mais o que dizer, os sábios recomendaram ao rei: “Majestade, só há um remédio que pode salvar o príncipe. Ele deve trocar sua camisa com a de um homem verdadeiramente feliz”. Confiante, o rei passou, então, a procurar o tal homem repleto de felicidade. Certo dia, quando estava passando pelas vinhas da região o rei ouviu um trabalhador a cantar. Então, desceu de seu cavalo e perguntou ao homem: “Você é feliz?” O trabalhador com um sorriso no rosto respondeu: “Sem dúvida alguma, eu sou realmente feliz e não trocaria a minha vida com a de ninguém!” “Então você pode salvar a vida de meu filho”, respondeu o rei, “eu lhe dou o que quiser se você trocar a sua camisa com a dele!” O trabalhador sorridente respondeu: “Sinto muito, majestade, eu não posso ajudá-lo. Eu não tenho camisa!”
Com cerca de quatro meses de idade uma criança tem a capacidade de expressar um sorriso se alguém lhe faz cócegas em sua barriga. Quando a mesma criança atinge um ano já possui desenvolvido seu senso de humor, ou seja, o entendimento para situações cômicas e engraçadas. Ela é capaz, por exemplo, de reagir com uma bela risada ao ver sua mãe chacoalhar de propósito uma mamadeira ou lhe fazer alguma careta. Existem aquelas pessoas que, a partir de seus primeiros anos de vida, não param mais de desenvolver a capacidade humorística e aumentar o habito do riso; outras, porém, desenvolvem sua potencialidade para o humor com timidez ou acabam deixando que ela se atrofie quase que totalmente. Sem dúvida, o humor e o sorriso são frutos de um estado de espírito, mas também não deixam de ser hábitos que podem e devem ser praticados. “Por sofrer tanto neste mundo, o homem foi obrigado a descobrir o riso” (Friedrich Nietzsche).
A palavra humor vem do latim (humore) que significa substância líquida ou semilíquida. Na antiguidade, o humor era o remédio dos curandeiros para manter o equilíbrio dos líquidos do corpo. Este significado acabou se perdendo com o passar do tempo e, somente no final do século vinte, começou a ser redescoberto. Uma cena cômica, uma boa piada ou cócegas na barriga constituem, segundo muitos cientistas, um caminho nobre para o inconsciente e um verdadeiro relaxamento da psique. Ao darmos aquela gostosa e solta gargalhada reativamos as mais antigas regiões do cérebro e descansamos as mais jovens. Surge um estado meditativo e nossa memória passa por um processo de purificação. Os problemas do cotidiano são esquecidos por alguns momentos e mais tarde possuímos mais força para enfrentá-los. Mesmo que forçado, o humor é um meio de entender as adversidades do cotidiano com mais leveza. Até mesmo diante de doenças, o riso provoca efeitos colaterais significativos, como mostra o filme “Patch Adams – O Amor é Contagioso”. O humor também está intimamente associado à sexualidade. O riso e o orgasmo não podem ser dissociados do prazer e da alegria, do relaxamento e da mútua entrega. Pesquisas científicas já provaram que pessoas de bom humor possuem muito mais prazer no ato sexual e atingem com mais facilidade o orgasmo. O humor e o hábito de rir são tão importantes para o ser humano que por todo o mundo proliferam os chamados “clubes do riso”. Wiesbaden, na Alemanha possui um destes clubes. O curioso foi o local escolhido: uma antiga igreja abandonada. Sem dúvida, lugar mais conveniente não existe. Tragicamente, o riso foi por séculos dissociado da religião cristã. Ao contrário de Krishna ou Buda, Jesus Cristo é quase sempre representado com um tímido sorriso ou em sofrimento. Por muito tempo, o cristianismo reprimiu não somente o prazer, como também o ato de sorrir, o que significa, na verdade, uma terrível contradição com a mensagem de Jesus Cristo. O Deus da Vida não deseja outra coisa que não seja o sorriso do ser humano. Jesus foi, com certeza, uma pessoa com senso de humor e de alegria contagiantes. Tanto seu nascimento como sua ressurreição são motivos de alegria (Jo. 8, 56; Lc. 1, 14) e a vivência da fé em comunidade não pode ser algo triste (At. 2, 46). O cristianismo deve ser a religião do riso, para quem acredita seriamente em sua mensagem. De qualquer forma, basta olhar para as diversidades de nosso cotidiano para perceber que o riso é algo de sagrado. Portanto, mesmo sem vontade, sorria! “A vida é muito importante para ser levada a sério” (Oscar Wilde).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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