junho de 2008.
O governo Lula segue a orientação dos governos anteriores, na política econômica – prioriza o pagamento dos contratos, garante o lucro do setor financeiro e a estabilidade da empresas e com 0,2% do orçamento (bolsa família) controla a reação de 11.000.000 de famílias ou 45 milhões de habitantes.
Os ricos inteligentes até ensaiam a proposta de um terceiro mandato para Lula – têm maioria para impor ao país qualquer mudança. Afinal, quem da direita reuniria tantas qualidades para apoiar o capital agora travestido de nacional? Se fazem alguma marola é porque não conseguem ser oposição e precisam do show midiático para assegurar cargos eletivos. Tentam vários expedientes para desacreditá-lo, mas percebem que depois de todos, Lula sai mais fortalecido no apoio popular. A elite brasileira é reconhecidamente machista, patriarcal, racista e preconceituosa. Embora nunca tenha lucrado tanto como no governo Lula, a elite é tão arrogante que preferia, para continuar sua política, alguém que tivesse nascido rico, no sul maravilha e pudesse exibir um canudo acadêmico.
Já na turma que, durante 40 anos, apostou e pôs suas esperanças no projeto Lula, há pelo menos três tipos de comportamento. Os lulistas, cegos apoiadores que só vêem acertos no governo Lula e tudo que se diga contra é conspiração para desestabilizá-lo – (isso lhes rende uma pontinha na máquina?). Mesmo o sindicalismo dito combativo, por razões sérias ou oportunistas, se tornou oficialista e funcional ao poder. Na outra ponta e impotentes estão os esquerdistas que acusam Lula de traidor e só sabem repetir Fora Lula! Mas, além de não terem expressão na massa, não apresentam alternativas e acabam servindo de braço auxiliar da direita – (será verdade que se venderiam por um prato de lentilhas?).
Um terceiro grupo tenta uma postura crítica quanto ao rumo do governo, sua visão de progresso e o abandono dos seus aliados de trajetória. Mas, reconhece que não é um governo igual aos anteriores, vê avanços ainda que insuficientes, na política compensatória de Lula e, analisa sua importância dentro do contexto atual latino-americano, com sinais de afirmação e soberania. Ao afirmar que o governo é menos mal, este grupo não o defende – apenas constata que, na atual correlação de forças e desmobilização popular, o tempo é de preparação de uma conjuntura que possibilite mudanças estruturais.
Por que Lula reforça o projeto da elite? Sempre pensou isso, mas nunca falou ou encantou-se com o brilho da corte? Acha que as empresas transnacionais do agronegócio e do setor financeiro querem o progresso da nação e a produção de comida? E por que elogia os coronéis latifundiários como heróis? Sua estratégia é o enriquecimento do capital que possa deixar uma sobra para os pobres?
Um governo é popular quando estimula políticas que visam incorporar o povo como protagonista. E é populista, como na ditadura Vargas, quando sua intencionalidade é incorporar o povo como massa de manobra para a ampliação do capital. O populismo adora platéias e torcedores. Ou como dizia uma enfermeira, no coletivo urbano: “tem gente que tem medo, mas eu prefiro lidar com morto; a gente pode cometer erros e ninguém vai reclamar”.
Lula é popular ou é um populista de novo tipo? Quanto mais a elite o ataca, mais o povo o apóia. Parece que o povo, além de pequenas melhorias, se identifica no Lula – Lula é ele próprio ou, ao ser um povo que não é, prefere um salvador que o represente.
É fácil entender que, em um país com a mentalidade de escravo, o povo tenha aprendido a encostar-se numa árvore que dá sombra, a por em si nome de gente famosa e buscar padrinhos poderosos para aparecer na vida. Essa mentalidade de escravo se manifesta quando confunde direito com favor, gentileza com subserviência e agradecimento com puxa-saquismo. Mas, se manifesta, igualmente, quando mistura obrigação com bondade, esmola com solidariedade, amizade com favorecimento, remendo com mudança e resistência à crítica com perseguição. O pior de tudo é quando essa pessoa assimila os valores da opressão para se dar bem como rei do povo.