junho de 2008.
Nestes dias, durante a passagem do príncipe japonês, pelo Brasil, a mídia, com destaque, mostrou a emoção de um nissei, vestido de “samurai”, expressando seu “êxtase de súdito, em poder curvar-se perante seu soberano”! “Pode haver maior glória, sonhada e buscada, durante toda a vida”?
A cortesia é uma prática, ensinada pela corte e repetida como sinônimo de educação, desde tempos imemoriais. Assim, a cultura da reverência, tida como respeito, se naturaliza para legitimar a pretensa superioridade de alguns eleitos que até se sentem deuses.
Para que se instale a cultura da subserviência não basta que o grande goste de mandar, é preciso esvaziar as pessoas de sua auto-estima e, depois, inculcar nos escravos, a vocação de serviçal que, de joelhos, adora anular-se frente à autoridade. Quem não é se alegra em projetar-se em alguém que diz ser.
Inicialmente, a submissão foi imposta pela repressão. Uma vez construído o paradigma da obediência, foi preciso torná-lo um preceito inquestionável para ganhar a mente e o coração das pessoas. A religião e os ensinamentos da família e escola serviram de canais prioritários na reprodução da dominação.
A domesticação das pessoas é um mecanismo, sempre reciclado, usado por quem não trabalha para continuar apropriando-se dos frutos do trabalho dos tolos. Não por acaso, a ideologia do destino e da ordem é tão espalhada – uns nascem para ser ricos… manga com leite faz mal, se morre de fome, mas não se come as vacas sagradas. Que aconteceria se as igrejas e a mídia começassem a pregar como Paulo quando diz “quem não quer trabalhar, também não há de comer”?
A prática de ensinar (in+singnare = deixar sua marca) contrasta radicalmente com a tarefa da educação que é, antes de tudo, de despertar as pessoas para que resgatem ou reafirmem sua dignidade de protagonistas. A obrigação de toda autoridade, para curar os pobres e prostrados pela atrofia dos séculos, seria repetir como Pedro: “levanta-te e anda! Eu também sou apenas um homem!”.