D. Edvaldo G. Amaral 26 de julho de 2008

Arcebispo emérito de Maceió*

O Papa Bento XVI promulgou para toda a Igreja um especial Ano Jubilar Paulino no sábado passado, na Basílica de São Paulo “fora dos muros” em Roma, a ser encerrado no próximo ano de 2009, por ocasião do bimilenário de nascimento do Apóstolo das Gentes, que os historiadores põem entre 7 e l0 d.C. Há vinte séculos se conserva, sob o altar papal da Basílica de São Paulo de Roma, o sarcófago que, segundo o parecer unânime dos peritos e por uma incontestada e milenar tradição, guarda os restos mortais do Apóstolo.

O convite do Papa é um incentivo a acolher o testemunho de São Paulo. “Nas suas Cartas, o Apóstolo das Nações muitas vezes repete que tudo na sua vida é fruto da iniciativa gratúita e misericordiosa de Deus (cf. 2Cor 4,1; Gl 1,15). Ele foi escolhido para anunciar o Evangelho de Deus (Rm 1,1) para propagar o anúncio da graça divina que reconcilia em Cristo o homem com Deus, consigo mesmo e com os outros” , disse Bento XVI em sua homilia. E continua mais adiante:” ‘Nem a morte, nem a vida’, escrevia Paulo aos romanos (Rm 8,38), nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” E ainda Bento XVI: “Como nas origens, também hoje Cristo precisa de apóstolos prontos a sacrificar-se a si mesmos. Precisa de testemunhas e de mártires como São Paulo; antes violento perseguidor dos cristãos, quando no caminho de Damasco caiu no chão fulgurado pela luz divina, passou sem hesitação para o lado do Crucificado e seguiu-o sem titubear. Viveu e trabalhou por Cristo; por ele sofreu e morreu. Como é atual, hoje o seu exemplo!”

Mas o testemunho de Paulo – lembra-nos Pier Guiducci da revista salesiana MARIA – não se desenvolve de improviso; ele experimenta as difíceis fases da conversão, a exigência da solidão na oração, a importância de construir uma nova fraternidade com seus novos irmãos, os discípulos de Cristo, que ele tanto odiara, a exigência de reler a Escritura, à luz do evento pascal. A existência terrena de Paulo – é ainda Guiducci quem acentua – termina com uma condenação à morte, precedida por uma prova duríssima: a da solidão. Ele escreverá que só Lucas ficou com ele (2Tm 4,11). Essa experiência de martírio indica uma vontade definida em São Paulo: a de não calar a verdade, não escolher caminhos mais cômodos e, sobretudo, menos perigosos. Em Roma, como havia feito nas outras cidades, ele procura sempre encontrar-se com os irmãos de raça, anunciando-lhes o Evangelho, qualquer que seja a conseqüência. É esse aspecto penitencial, de conversão a Cristo, de entrega total ao Senhor Jesus, como fez São Paulo, que Bento XVI quer ver efetivados neste Ano Jubilar quando fala de “peregrinações de forma penitencial ao túmulo do Apóstolo, para encontrar a renovação espiritual.”

O Cardeal Andréa Lanza di Montezémolo, Arcipreste da Basílica de São Paulo de Roma, dá algumas indicações bem práticas para uma frutuosa celebração do Ano Paulino. Diz ele, entre outras coisas, que este ano deve ser um convite e uma ocasião para: a) Redescobrir a figura de Paulo, sua atividade evangelizadora, suas viagens; b) reler e estudar com carinho e devoção suas epístolas; c)aprofundar seu rico ensinamento e meditar sua vigorosa espiritualidade de fé, esperança e caridade; d) reviver os tempos da Igreja primitiva, suas comunidades apostólicas; e) revitalizar nossa fé e nossa atuação como Igreja viva de hoje à luz dos ensinamentos paulinos.

Que o grande convertido de Damasco, “servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o Evangelho de Deus, a fim de trazer para a obediência da fé, para a glória do nome de Jesus Cristo, nosso Senhor, todas as nações” ( Rm 1,1 e 5), nos ajude a vivermos com fé e fortaleza nosso compromisso batismal com o Cristo Jesus.

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