A Teologia Bíblica coloca em relevo a importância, no livro do Gênesis, da responsabilidade daquele primeiro casal simbólico, em cultivar o Jardim do Paraíso. Como se torna atual essa necessidade! A imprensa, escrita e falada, tem trazido em manchete a preocupação internacional com esse Paraíso Perdido, mas sempre achado pelos especuladores, que é a Amazônia.Nesse clima de tensão, sai a Ministra Marina, aquela que é considerada mais do que uma madrinha daquela região, mas alguém que tem uma identificação total com a causa da natureza.
A sociedade moderna está vivendo um momento histórico que exige repensar a sua relação com o ambiente, com o outro e consigo mesmo..São dicotomias sempre atuais nas nossas preocupações.Uma característica das lutas em defesa do meio ambiente é a sua estreita vinculação com a dignidade da vida material do ser humano.

O famoso antropólogo Franz Boas ( que foi professor de Gilberto Freyre) lembra que todas a formas da cultura humana derivam do ambiente geográfico em que vivem os homens. E Edgard Morin, preocupado com a preservação da natureza, diz que o destino do homem foi, em grande parte, o de se proteger da natureza e dela tirar a sua subsistência. Continua ainda ele: “Hoje, o homem, que pretendeu ser o amo e senhor da natureza, descobre a sua tirania; e descobre também que a natureza pode morrer (…). Mas é preciso também, para libertar o homem, libertar a natureza, ameaçada pelo gigantismo e a brutalidade da indústria”.

O Brasil é, inegavelmente, um dos países mais ricos do mundo em termos ambientais: possui em seus 8.511.996 km2 cerca de 1/3 das florestas tropicais existentes no planeta e o maior sistema fluvial do mundo ( para confirmar isso, basta citar que 2/3 da vasta bacia fluvial amazônica estão no território brasileiro). Dentro dessa grandiosidade ambiental, podemos citar o Pantanal como o maior complexo de savana, que contem a mais rica diversidade biológica e as maiores extensões de mangue do mundo.

Mas ao lado dessa riqueza natural, é no Brasil que se encontram os centros mais poluídos do mundo, como conseqüência de uma industrialização crescente e desordenada, gerando, contraditoriamente, imensos focos de miséria e uma ocupação desordenada. A Mata Atlântica tem sido sistematicamente destruída há mais de um século – basta ver aqui bem perto de nós, o que sobrou em torno da Avenida Paralela – e é, hoje, o segundo bioma florestal mais devastado do mundo. Ela perdeu áreas originais consideráveis e resiste à ação do homem através de pequenas porções de florestas, que são de crucial importância para a proteção dos mananciais, prevenção da erosão e conservação das espécies raras da região.

No dia 16/05/2008, a ex-ministra Marina Silva foi elogiada publicamente pelo Frei Beto, no Jornal “Folha de S. Paulo” num artigo que, alem de ser contundente, não foi menos verdadeiro: “Na Esplanada dos Ministérios, como Ministra do Meio Ambiente, tu eras a Amazônia cabocla, indígena, mulher. Muitas vezes, ao ouvir tua voz clamar no deserto, perguntei-me, até quando agüentarias. Não te merece um governo que se cerca de latifundiários e cúmplices do massacre dos ianomâmis. Não te merecem aqueles que miram impassíveis os densos rolos de fumaça volatilizando a nossa floresta para abrir espaço ao gado, à soja, à cana, ao corte irresponsável de madeiras nobres”.
Ele lembra ainda que ela fora excluída do Plano Amazônia Sustentável. A dúvida dele é a quem esse Plano irá beneficiar : aos ribeirinhos, aos povos indígenas, aos caiçaras,aos seringueiros, ou às madeireiras,e às empresas do agronegócio ? São perguntas sem respostas formais. O que ele lamenta é que ela não foi munida de recursos necessários à execução do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, aprovado pelo governo em 2004.
E ele continua fazendo denúncias que clamam aos céus : “Entre 1990 e 2006, a área de cultivo de soja na Amazônia se expandiu ao ritmo médio de 18% ao ano. O rebanho se multiplicou 11% ao ano. Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, detectaram entre agosto e dezembro 2007, a derrubada de 3.235 km2 de floresta. Como os satélites só captam cerca de 40% da área devastada, o próprio governo estima que 7 mil km2 tenham sido desmatados”.

Na Antiguidade, a preocupação com as questões do meio ambiente já se encontram expressas no Pentateuco, um dos livros integrantes da Torá ou Lei bíblica,quando, no relato da Criação, vemos Deus Criador recomendar aos primeiros homens que preservem o mundo no qual Êle os colocou . Podemos dizer que as primeiras noções sobre biodiversidade e a preservação das espécies animais são encontradas quando Noé leva para a Arca os casais de cada espécie. É ainda na referida Arca que aparecem os primeiros registros sobre lixo na medida em que um andar inteiro era reservado para essa utilização. No livro do Deuteronômio, cap. 20, 19, já aparece a proibição do corte de árvores frutíferas: “Quando tiveres que sitiar uma cidade durante muitos dias , antes de atacá-la e tomá-la, não deves abater as suas árvores a golpes de machado – alimentar-te-ás delas sem cortá-las”.
Por todas essas razões expostas, fica patente a necessidade de preservar a natureza, até por instinto de sobrevivência do homem.
E disse Deus no Gênesis :”Façam-se as árvores – e Ele viu que tudo era bom”.

*Prof. de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio.Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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