Edilberto Sena 28 de junho de 2008

Comentário/ editorial no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM)
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Cultivar costumes, tradições é cultivar cultura e manter identidade de um povo. Cultura é parte da auto estima e esta é uma forma de um povo cultivar sua alegria e gosto de viver. Povo sem cultura é povo em extinção. O povo Guarani no mato Grosso do Sul está se auto destruindo em suicídios de jovens e doenças de fome. Uma das razões dessa crise existencial de um povo é que a terra de viver, parte essencial de sua cultura foi tomada por invasão de fazendeiros. Os indígenas estão acuados e perseguidos em pequenos lotes de terra que lhes restou.

Aqui no Oeste do Pará uma parte importante da cultura está na alimentação. O peixe, a farinha d`´agua, os vinhos de cupu, de açaí e de bacaba, como mingau da cará e banana grande, como o piracuí, são segredos dessa cultura cabocla. No café da manhã a cultura regional tinha a beiju, a farinha tapioca, o mingau de araruta para a criança, a farofa de ovo. Mas a modernização, os meios de comunicação social e a migração de outras culturas, a começar com a portuguesa do tempo colonial, trouxeram outras culturas culinárias, algumas delas já dominado e expulsando as culturas regionais. A coca cola, que só é criador de dependência física e psicológica domina o guaraná e o suco de graviola.

Mas tome-se o caso específico do café da manhã de hoje em qualquer casa, por mais pobre que seja, quando há algum dinheiro. O pão de trigo expurgou as outras iguarias regionais já mencionadas, como o cará, a batata doce e os produtos da mandioca. O pão é cultura importada, trigo não se planta aqui nos trópicos. Mas a propaganda, e a chegada de outros migrantes este hábito entrou na mesa da população regional e expurgou os pratos nativos. A cultura dos povos da região entra em crise existencial.

Observe-se o quadro da invasão cultural do pão. Só na cidade de Santarém existem atualmente mais de 300 panificadoras, sendo que apenas umas 50 são regulares, as outras são familiares, de fundo de quintal como diz o ditado. Pois bem, o trigo, que é importado totalmente do sul e da Argentina, de repente subiu de preço. No mercado santareno o saco de 60 kgs. chegou a R$ 105,00 e naturalmente o preço do pão também subiu. Depois, o saco de trigo baixou de preço, mas o preço do pão não baixou. Mesmo assim a população reclamou, reclamou mas continuou a consumir pão mais caro. Duvida-se que a maioria da população tenha trocado o pão mais caro pela farinha de tapioca, o cará e o beiju. Será que os produtores das feiras populares aumentaram a venda de tapioca, macaxeira e beiju seco?

A dominação de culturas externas tem dominado tanto basta conferir o número de padarias e pizzarias na cidade. É a colonização cultural, um sinal silencioso da perda de identidade dos nativos da região, assim como nas músicas, nas danças, nas roupas e etc. A Amazônia, além de estar sendo destruída em sua cultura natural, também continua violentada na identidade de seu povo. Os Tupaiús foram extintos, os Boraris também. O que resta dos descendentes corre grave risco de extinção também e isso é muito sério. O sofrimento do povo Guarani no Mato Grosso é um alerta para os povos do Baixo Amazonas.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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