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Certa vez, resolveram promover uma grande festa, para a qual todas as luzes deveriam ser convidadas: lustres, lâmpadas de néon, a “luz negra”, abajures, enfim, luzes de diversas cores e formatos. Até mesmo a rústica e antiquada vela fora convidada. Na noite esperada, o salão de festas tornava-se cada vez mais iluminado à medida que os convidados iam chegando. Formando um show maravilhoso de cores e efeitos, as diferentes luzes dançavam, ao som da música, com muito entusiasmo. Em um certo momento, a pequena vela entrou no salão de festas, mas ninguém percebeu sua chegada, pois sua luminosidade era fraca e insignificante diante de suas colegas. Como ninguém lhe dava muita atenção, a vela acomodou-se em um cantinho do salão e ficou apreciando a beleza de suas amigas. Quando a festa estava no seu auge, aconteceu o inesperado: um black out. A energia havia acabado em todo o enorme clube e, de uma só vez, todas as luzes se apagaram. Foi então que no meio da grande escuridão, todos começaram a perceber uma forte luminosidade que vinha de um canto do salão, a luz da pequena vela. Enquanto o eletricista não chegava, a pequena vela pode iluminar todo o salão de festas evitando assim algum acidente.

Todo ser humano é uma composição particular de elementos, uma soma de sua carga hereditária e das experiências vividas em um determinado cosmos social. Por ser uma formação alquímica única, todo ser humano significa a esperança do surgimento de algo novo. Através de palavras e atos, nos inserimos no mundo humano e entramos em interação com ele. Esta nossa inserção no universo social pode ser considerada um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico. À medida em que vivemos, somos modificados pelas relações humanas e acabamos, também, por modificá-las. Apesar do fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, ninguém é exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. Esta santa diferença é uma característica de nossa condição humana e faz com que o universo social seja marcado necessariamente pela pluralidade de pensamentos e principalmente de ações. Esta diversidade de comportamentos nos mostra a associação íntima entre ação e natalidade. O novo começo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto é, agir. Todo ser humano traz consigo algo de diferente e o expressa através de suas ações. À coerência entre o “novo” de cada pessoa e seu comportamento damos o nome de autenticidade. Esta se torna visível à medida que tomamos consciência de que surgimos neste mundo para sermos felizes e cada ser humano possui o direito a um “lugar ao sol”.

A autenticidade, porém, depende da necessidade que cada ser humano possui em adequar sua forma única de ser, a originalidade de suas ações, com as condições criadas pelas relações humanas, pelo ambiente social. O drama da condição humana constitui-se justamente na dialética entre a individualidade e as influências do meio social, ou seja, entre ser o que somos expressando livremente o “novo” que podemos trazer ao mundo e as expectativas que as pessoas que nos circundam possuem sobre nosso ser e o nosso agir. Como viver a nossa autenticidade e não frustrar as esperanças dos que amamos é a questão a ser solucionada por cada ser humano. Em nossa sociedade a influência social constitui um peso extremo sobre o indivíduo. Antes de tomarmos uma decisão ou assumirmos uma atitude, somos condicionados desde muito cedo a nos questionarmos sobre “o que as pessoas irão pensar”. Nos sentimos bem quando vivemos em conformidade com o nosso grupo e, por mais fortes que sejamos, somos tomados por uma sensação de desconforto quando não vivemos de acordo com a maioria, ou seja, com a normalidade. Esta pressão do social sobre o individuo, além de ser um desrespeito à individualidade da pessoa humana, contribui para o empobrecimento da vida social, pois sufoca o “novo” com o qual cada pessoa humana poderia enriquecer a vida. Por isso, faz-se necessário que cada ser humano acredite em si mesmo e não se deixe vencer pelo autoritarismo ou pela intolerância de pessoas que já perderam sua autenticidade. A grande aventura de viver é não cair na uniformidade, mas ter a coragem de ser o diferente que, na verdade, somos. Se nos deixarmos vencer, não haverá surpresas, nem alegrias. Afinal, somente buscando a autenticidade podemos realmente iluminar o nosso mundo. “Ótimo, que tua mão ajude o vôo, mas que ela jamais se atreva a tomar o lugar das asas” (Helder Câmara).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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