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Conta-se que, certa vez em Samaria, enquanto passeava com seus discípulos, Jesus, para espanto deles, traçou na areia algumas letras com a ponta do cajado. Mal terminara de escrever, um vento forte, enviado por Deus, soprou apagando rapidamente os traços desenhados pelo Mestre como a libertar a palavra Divina da limitação das
letras, ficando assim, dispersa pelo mundo, o que deveria ter sido a primeira mensagem escrita por Jesus. Eram claros os desígnios do Pai: o Filho teria que se comunicar pela palavra falada e não pela escrita.
É possível, que a partir daquele momento, O Divino Mestre tenha dado aos seus discípulos a missão de encontrar e resgatar as palavras sopradas pelo vento. Aí estão os Evangelhos, escritos pelos apóstolos, anunciado: Jesus disse, e nunca, Jesus escreveu.
Esta difícil missão tem-na também o escritor. É um legado com ares de castigo: o de desvendar o mistério da palavra dando-lhe, no momento exato, o verdadeiro sentido. Há uma inquietude que visita constantemente sua alma, um desassossego e, muitas vezes, até o desespero de não conseguir saber como e quando lhe chegará a idéia trazendo consigo a palavra certa. Quantas vezes pensa estar certo do que realmente deseja dizer, mas fortes ventos sopram apagando, confundido, deixando um vazio como se o nada fosse o outro lado do ser. O ato de escrever é, sem dúvida, um ato solitário de busca.
Hoje, nós os que lidamos com a insubordinação das letras, com a resistência das idéias, sabemos que a palavra falada alcança mais homens do que a palavra escrita.
Aos poetas são concedidos dons especiais e um deles é a intimidade com as dores do mundo.
É preciso, pois, que o escritor, poeta ou não, acredite que as palavras espalhadas pelo vento estão no Universo à nossa espera.
Obs: Texto extraído do livro da autora – Memórias do Vento –