Convidados, de outras cidades, de Salvador, Padres, minha família,
Silvoney

7- A colonização lusa é marcada pela construção de igrejas dedicadas ao culto mariano.
Poderia haver lugar melhor do que Salvador e o Recôncavo para fazer essa constatação?

– A devoção a Nossa Senhora do Rosário é uma das mais difundidas, tanto entre os lusos como entre os afro-descendentes. Em 1584 , o historiador português Gabriel Soares de Souza, tendo pedido a proteção de Nosso Senhor, declara: “Ponho a esperança de minha salvação no favor e ajuda da Sacratíssima Virgem Maria, a quem peço me dê a honra daqueles l5 mistérios que se encerram no seu santo rosário, de quem sempre fui devoto”.

Também Vieira, pregando na festa do Rosário, num engenho do Recôncavo, em 1634, exortava as negras a utilizarem as contas do rosário, como adorno corporal. A igreja do Rosário dos pretos é aqui um marco dessa devoção, igreja que foi construída pelas mãos escravas.

– Nossa Senhora da Ajuda marca a história da Bahia e de Salvador. Em Porto Seguro, o superior dos Jesuítas em 1583, fez uma romaria à igreja que tem o nome dessa devoção.Em Cachoeira está identificada com a a origem da própria cidade. Em Salvador, ela marca,desde Thomé de Souza, o lugar da primeira , sob as bênçãos de Nossa senhora da Ajuda.
– Nossa Senhora da Vitória
– A Conceição da Praia
– Nossa Senhora da Guia
– Senhor do Bonfim ( devoção e lavagem)
– Igreja da Graça
– S. Francisco
– A Antiga Sé

8- Aqui em Salvador, como um mostruário da Bahia e do Brasil, sobrevive a religião popular: ( São muitas as devoções a elencar: privilegio algumas não em detrimento de outras).
– Festa de Reis- A Lapinha é um ponto de concentração daquilo que se realiza em vários bairros :”Armam-se presépios nas vias públicas (Diário de Notícias, 05/01/1929)
– A Trezena de St° Antônio, tanto nas igrejas como nas casas particulares, são um testemunho da confiança nesse santo português. Já Vieira (Século XVII), num famoso Sermão, sublinha essa devoção aqui praticada :”Se vos adoece um filho: St° Antônio,se vos foge um escravo: St° Antônio,Se mandais a encomenda: St° Antônio,Se esperais o retorno, St° Antônio,Se requereis o despacho, St° Antônio, Se aguardais a sentença, St° Antônio, Se perdeis a menor miudeza de casa, St° Antônio”.

9- Salvador é a cidade das Confrarias e Irmandades. À medida que a Bahia crescia em bem-estar material, conseqüência do desenvolvimento social e econômico do Recôncavo, houve condições e favoráveis para o surgimento de novas associações religiosas de leigos. Algumas foram revitalizadas, como a Irmandade da Misericórdia desde as primeiras décadas, com o atendimento aos enfermos, por causa da precariedade dos recursos. Com a multiplicação dos engenhos e fazendas no Recôncavo, ficou mais fácil obter esses auxílios materiais. Em 1587 o Provedor da Misericórdia, Cristóvão de Barros, visita o Recôncavo, pedindo apoio.
– Confraria do SSmo. Sacramento : promover entre os leigos a devoção à Eucaristia (Corpus Christi).
– Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
– Irmandade da Boa Morte, da Barroquinha, de Cachoeira e de S. Gonçalo dos Campos
– As Ordens Terceiras – os leigos eram admitidos a usufruir dos benefícios espirituais da vida consagrada. Em seu testamento, redigido em Salvador, Gabriel Soares de Souza, em 1584, faz a declaração de pertencer a quatro Ordens Terceiras – certamente a três delas já o fizera no Reino ( ele se refere S.Francisco,S.Domingos,Carmelitas). Ser amortalhado com as vestes dessas Ordens, era garantia certa da salvação eterna. Até o Clero tinha e tem até hoje uma Irmandade : é a de S. Pedro dos Clérigos.

Muitas dessas Irmandades ainda subsistem na nossa Salvador.
Falar em Irmandade, é falar em procissão. A procissão é considerada um elemento muito importante para entendermos o catolicismo da colonização, que é uma contribuição lusitana. Gilberto Freyre descreve as antigas procissões :”Desfilavam-se Irmandades, as Ordens Terceiras, uma variedade de opas, bandas de música, penitentes nus da cintura para cima”.

10- Vou concluindo, recordando-me que esse costume de conceder títulos de cidadania já estava presente nos costumes do povo romano.E, nessa perspectiva, lembrei-me de S. Paulo, o famoso pregador do Evangelho aos pagãos, que no julgamento, argumentou que era cidadão romano, o que confundiu seus adversários, e foi adiando seu julgamento, até que chegou o momento decisivo.

– A cidade de Salvador foi a primeira cidade fundada no Brasil – ela data de 1549, permanecendo a polêmica com relação ao dia e mês ( 459 anos). Theodoro Sampaio sugere que seja em 13 de,junho, pois nessa dia foi realizada a primeira procissão de Corpus Christi (conforme carta do Pe. M. da Nóbrega). O historiador Pedro Calmon defende que a data correta é 1° de maio, data em que os trabalhadores na construção dos muros, começaram a “vencer soldos” ( utilidades). Não sendo possível uma data exata, uma comissão de representantes do IGHB,Academia de Letras e do Centro de Estudos Baianos, sugeriu 29 de março, com o argumento de que essa fora a data de desembarque do primeiro governador geral na enseada do Porto da Barra, episódio do qual não existem dúvidas.
Portanto, considero uma feliz coincidência que esse título me seja entregue exatamente às vésperas do dia da nossa Cidade do Salvador.

*Professor Adjunto da Uneb, da Cairu, da Faculdade 2 de Julho. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação de Interpretação do Patrimônio, ANIP, Br. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

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