Malu Nogueira 20 de maio de 2008

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Alegria indizível trazida
Pelo ventre das chuvas dos ventos alísios.
O mandacaru florou,
A seca foi embora,
O feijão canivetou,
O milho encanou e bonecou,
Os barreiros encheram
E o gado refestelou-se na pastagem verdejante
Tudo isso porque o Rio Pajeú, que nasce em Itapetim
Correu para a minha cidade
E afogou o que estava queimado pelo sol,
A ingazeira renasceu.
As pedras estão brilhantes,
Ensaboadas pelas águas barrentas, que rebolaram
Pelas terras de São José do Egito,
Entram em Tabira e penetram leito adentro
Espichando garranchos
Destruindo a pasta verde que tomou o seu lugar.
O povo, em festa, pendura-se nas pontes,
E mergulha o olhar na imensidão da água que ocupa tudo embaixo.
Nem o açoite dos ventos,
Nem o balançar da ponte, tomada de gente de todos os credos
Nem os pilares mergulhados no barro,
Nem a cobra verde que pede socorro para não ser arrastada pelas águas ruidosas
Nem o ribombo do trovão,
Nem o alumiado dos raios,
Nada é capaz de tirar dessa gente, o feitiço provocado pelo Rio Pajeú
O alumbramento é tamanho
Que toda a destruição feita ao rio
São águas passadas e levadas sem rastro,
O tapete verde foi puxado para dar passagem ao seu dono
Ausente por tanto tempo,
Mas presente na lembrança dos mais velhos que lhe respeitam
E seguem suas enchentes.
Um rio que nasce sozinho e que entra noutro rio
Que carrega Francisco no nome,
E é santo por devoção,
Porque ninguém encontra um rio tão necessário e cativo,
Que enrica quem o tem aos seus pés
Que dá do mesmo tanto que recebe.
No jeito retumbante que mostra,
Na cor amarelo queimado da terra,
No som profundo que traz,
Na garganta poderosa que possui,
No enfeite de renda branca espumosa
Ladeando um canto a outro suas barreiras.
A água, numa corredeira de beleza sem igual,
Não mitiga o azul do céu encoberto,
De cinza e chuva suspensa
Azul, amarelo, branco e verde da nossa bandeira,
Cores vivas e fortes
Que se tocam em harmonia
E se completam nos gritos dos trovões assustadores,
A soltar coriscos pinotando sobre os lajedos
Clareando seu caminho pelos raios potentes
Que rasgam o firmamento e se perdem na terra barrenta,
Encharcada de fortuna e abundância
Pelas enchentes do Pajeú
Que majestoso confirma seu reinado triunfante
E segue uma trilha só dele conhecida
Para encontrar e se misturar ao velho Chico mineiro,
E entrar no mar do mundo de todos os mistérios.

(30/03/2008)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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